Nen toda a palavra serve
para vestir o manel.
No corpo, na alma, em tudo
o bem e o mal vem-lhe a tons:
fica-lhe mal o veludo
e fica-lhe bem a lona.
Tem o tamanho que tem,
seja calçado ou descalço:
talvez por isso, também,
nunca deu um passo em falso.
Nasceu nu e nunca quis
tapar a sua nudez:
é senhor do seu nariz
sem ostentar altivez.
Deixo o artista de parte,
fico na minha cantiga:
que nesta coisa de arte
há muito que se lhe diga.
Fiz o retrato que pude,
desde a alma até à pele:
espero que nunca mude
- que seja o mesmo manel.
Francisco Gonçalves
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