Pedro Oliveira refere que embrionariamente
o mercado da arte começa nos anos 80, em Portugal. A partir de 79-80, quando a
situação política começa a acalmar, começam a abrir algumas galerias,
timidamente. Foi aí que apareceu a Roma e Pavia por intermédio do meu irmão.
Depois em 85 tomei conta da galeria. No início servi-me de alguns amigos,
especialmente de Jaime Isidoro, comecei com os artistas da minha geração. Fazia
um bocado de mercado / dealing: ia
fazendo exposições, pouco a pouco, em tendências novas, mas como tinha que ganhar
dinheiro fazia mercado paralelo, por intermédio de amigos, que me arranjavam
obras mais caras, como era o caso de Jaime Isidoro. A partir de 90 isto começou
a crescer, a explodir e apareceram muitos críticos de arte. A partir daí
resolvi mudar de instalações e atirar-me para uma coisa maior, e vim para aqui.
Na altura era a maior galeria de Portugal, e comecei a avançar para o mercado
internacional e a fazer programação mais internacional. Aventurei-me daqui para
fora, a arranjar contactos. Esse foi o meu período de ouro, essa década de 1990
a 2000. Ganhei bastante dinheiro, as coisas correram-me muito bem, trouxe cá
nomes de artistas muito interessantes da arte internacional. Apesar de tudo
ainda mantive um certo ritmo interessante, até meados de 2000. Foi altura da
entrada dos artistas Brasileiros, foi a descoberta do mercado brasileiro. Agora
tem 25 artistas e se fizer 6 exposições por ano eles têm de esperar 3 anos,
para dar a volta.
Pedro Oliveira é defensor de
que as galerias devem estar em rede e não se importa de partilhar
colecionadores com outras galerias.
Pedro Oliveira considera que
poderia ser interessante haver casas de leilões especializadas em arte
contemporânea em Portugal, como a Christie’s ou a Sotheby’s, e que esse facto
não iria afetar as galerias: “poderia não afetar tanto se houvesse um historial
de casas de leilões boas a nível de arte contemporânea em Portugal, o que nunca
houve.”
Pedro Oliveira considera que
os leilões em Portugal são uma misturada: é antiguidades com pratas, com arte
contemporânea pelo meio. A arte contemporânea até aparece nos leilões mas
coisas desgarradas. E tudo o que aparece tem um preço muito baixo, o que é
muito mau. A única leiloeira que estava disposta a arriscar em fazer um ou dois
leilões de arte contemporânea em Portugal, foi a S. Domingos, no Porto,
fizeram-me essa proposta para eu a apresentar à APGA (Associação Portuguesa de
Galerias de Arte), só que a APGA não quis arriscar.
Pedro Oliveira refere que
havia muito dinheiro no Porto nos anos 80, havia muitos colecionadores,
sobretudo na cintura industrial industria têxtil e calçado. Tive também muitos
contactos de Espanha, especialmente galegos que vinham aqui ao Porto. A partir
de 2000 o Porto entrou em declínio, Lisboa começou a crescer e começaram a
aparecer as grandes coleções em Lisboa. As sedes das grandes empresas, algumas
começaram a fazer coleções bem estruturadas, profissionais, com advisers, como a Culturgest, a EDP e os
Bancos (BES Photo), mas sobretudo de particulares como a sociedade de advogados
PLMJ, o Saragga Leal que já era colecionador conseguiu convencer os sócios da
PMLJ a formar uma coleção corporativa, e focalizaram-se em gente muito nova,
foram ajudados pelo Manuel Amado, que é um crítico de arte e que na altura foi
o adviser deles. Não há um artista que comece a ficar famoso que eles não
comprem. Começaram também a abrir muitas galerias em Lisboa. Apesar de estar no
Porto, vendia muito para Lisboa expunha alguns artistas meus em Lisboa por
intermédio de algumas galerias ou instituições, de 2001 a 2008. Depois veio a
falência do Banco Lehman Brother e estragou tudo!
Pedro Oliveira refere que as
feiras de arte são importantes. Para divulgar, para mostrar e para criar
contactos. Cheguei a vender tudo o que tinha, a esvaziar o stand, na Art Basel Suíça, que é o Rolls Royce das feiras de arte. Só
que neste momento os portugueses não têm dinheiro para fazer feiras de arte.
Não há apoios por parte do Estado e as galerias têm como objetivo prioritário,
dado o momento atual da crise, a sobrevivência. Se eu estiver a vender uma peça
portuguesa no estrangeiro, estou a exportar uma mercadoria com uma conotação
especial ligada à cultura, que é uma embaixada importante, é uma mais-valia
para o nível da imagem do país.
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