Escola De
Artes Decorativas Soares dos Reis
O Ensino
Técnico Artístico no Porto
Durante o
Estado Novo (1948-1973)
Francisco
Perfeito Caetano
Ed.
Universidade do Porto
(2012)
ISBN
978-989-8265-87-6
A atual Escola Artística de Soares dos Reis foi criada
oficialmente em Janeiro de 1884, sendo designada nessa altura como Escola de
Desenho Industrial de Faria de Guimarães do Bonfim. A sua atividade iniciou-se
um ano mais tarde em instalações precárias de um prédio de habitação no Campo
24 de Agosto.
Em 1917, a escola recebe ordem de despejo e passa a ocupar as
antigas instalações do Liceu Alexandre Herculano, na Rua de Santo Ildefonso.
Em 1927 é autorizada a compra de uma velha fábrica de
chapéus, na Rua Firmeza, 49. Em 1931 é criado o curso de habilitação à Escola
de Belas Artes. A Escola dá cursos de cinzelador, gravador de aço, marceneiro,
ourives, modista, tecelão debuxador, entalhador entre outros.
A partir de 1948, a Escola, agora denominada Escola de Artes
Decorativas de Soares dos Reis, passa a ministrar cursos especializados de
índole artística - Pintura Decorativa, Escultura Decorativa, Cerâmica
Decorativa, Mobiliário Artístico, Cinzelador e, entre outros, as Artes
Gráficas. Com a reforma do ensino secundário em 1972/73, introduzem-se os
Cursos Gerais e Complementares de Artes Visuais, incluindo Artes dos Tecidos,
Equipamento e Decoração, Artes do Fogo, Artes Gráficas e Imagem.
Em 2008, 124 anos após a sua fundação, a agora denominada
Escola Artística de Soares dos Reis muda-se finalmente para um novo edifício na
rua Major David Magno, onde antes se encontrava a Escola Secundária de Oliveira
Martins. Obra da empresa pública Parque Escolar, o edifício é desenhado pelo
arquiteto Carlos Prata e faz parte da fase piloto do projeto de requalificação
do parque escolar do ensino secundário público nacional. Mantendo a fachada da
antiga escola, todo o interior é renovado ou construído de novo de modo a
receber os Cursos Artísticos Especializados criados em 2004.
Mantendo o seu projeto educativo que consiste num ensino
artístico de excelência que alia a exigência na formação geral ao
profissionalismo e paixão colocados na formação técnica e artística, a Soares
dos Reis é hoje uma instituição de ensino de referência na cidade do Porto e no
País. A equipa de professores com formação especializada conjuga juventude e
experiência numa rara mistura que é receita de sucesso, hoje complementada por
instalações que são das melhores do país para o ensino das artes.
Tendo em atenção a importância de ser sede de estagiários
(centro de estágio) para uma instituição como a Escola Soares dos Reis, e ter
no seu seio professores estagiários, consideramos relevante referir aqui os
nomes e classificações dos estagiários do 5ºgrupo, constantes no livro de atas
“para classificação dos professores estagiários” correspondentes aos 1º e 2º
ano de estágio. São eles Mário Truta, 14 e 15 valores (1952-1953); Manuel
Pereira da Silva, 15 e 17 valores (1966-1967); entre muitos outros professores
estagiários.
Alguns dos professores da Escola Soares dos Reis tiveram um
impacto profundo no panorama artístico nacional entre eles destacam-se Sousa
Caldas, Mário Truta e Manuel Pereira da Silva.
Após uma I Exposição, nas instalações da Escola Superior de
Belas Artes do Porto, com esculturas (referem-se por nossa opção, apenas os
escultores) de Altino Maia, Mário Truta, Arlindo Rocha, Serafim Teixeira,
Augusto Tavares e Manuel Pereira da Silva, as exposições independentes passam a
ter lugar fora da escola e várias vezes fora do Porto. É um primeiro exemplo de
descentralização e vontade de difusão que, apesar de tudo, não evitará uma
certa marginalização dos artistas do Porto em relação aos acontecimentos e
iniciativas de maior visibilidade e impacto na capital.
Importância bem maior teve a I Exposição dos Independentes em
Abril de 1943. A arte abstrata portuguesa está historicamente ligada às
exposições independentes cujo principal organizador e animador, Fernando
Lanhas, é coincidentemente a figura central desse abstracionismo.
A II Exposição Independente apresenta-se, em Fevereiro de
1944, no Ateneu Comercial do Porto, com esculturas de Altino Maia, Arlindo
Rocha, Eduardo Tavares, Joaquim Meireles Manuel da Cunha Monteiro, Maria
Graciosa de Carvalho, Mário Truta, M. Félix de Brito, Manuel Pereira da Silva e
Serafim Teixeira. Será a partir daí que a ação de Fernando Lanhas se fará
sentir, na consistente qualidade dos catálogos e das exposições, bem como na
persistência em manter vivas as iniciativas.
A III Exposição Independente tem lugar, no mesmo ano, no
salão do Coliseu do Porto, com esculturas de Abel Salazar, Altino Maia, António
Azevedo, Arlindo Rocha, Eduardo Tavares, Henrique Moreira, Manuel Pereira da
Silva, Mário Truta e Sousa Caldas.
No catálogo da exposição, em itinerância por Coimbra, Leiria
e Lisboa, em 1945, esclarece-se que o nome de “independente” não é um nome ao
acaso, mas implica a consciência de que a arte é um património da humanidade e
daí “a nossa variadíssima presença”, atendendo-se que o presente deve ativar-se
para alcançar o futuro, não se podendo negar ao passado o direito de
recordar-se.
Para Fernando Lanhas as “Exposições Independentes” do Porto
marcam um momento histórico significativo na nossa pintura e escultura.
Primeiro porque reúnem pintores e escultores de formação diferente (a razão de
ser da palavra independente vem da não filiação num “ismo” particular),
empenhados numa igual ação coletiva e mergulhados no mesmo entusiasmo. Segundo
porque nelas aparece, sem preconceitos nem complexos, essa abstração original e
fecunda. E em terceiro lugar porque escapam à voracidade centralizadora da
capital.
Sem comentários:
Enviar um comentário