A escassez do mercado
galerístico em Portugal, a primeira galeria surgiu em 1954, de Jaime Isidoro
(pintor) com a Galeria Alvarez, no Porto, embora tivesse estado fechada vários
anos, e em 1964 a Galeria 111 de Manuel de Brito, em Lisboa.
Conforme refere Jaime
Isidoro “Não houve mercado, as exposições faziam-se, colocavam-se os quadros e
retiravam-se sem se venderem”, Manuel de Brito refere o mesmo panorama
desertificado do nosso mercado artístico “Nessa altura era impensável alguém
ter um projeto de galeria comercial”. Manuel de Brito considera que o período
de maior crise foi o que se seguiu ao 25 de Abril de 1974, porque praticamente
fecharam quase todas as galerias.
Manuel de Brito refere que
as duas primeiras exposições que fez de Paula Rego não venderam um único
quadro. Começa a ter uma convivência mais direta com artistas plásticos numa
livraria universitária que tinha ao lado da Faculdade de Ciências de Lisboa,
num espaço de 3x4 metros, depois foram vagando estabelecimentos e eu fui
adquirindo esses espaços. Nunca me passou pela cabeça ser colecionador, tinha
alguns amigos que me davam algumas coisas, mas coisas que eles não atribuíam
grande valor, nem eu, porque não havia os números a sobrecarregar a ideia que
aquilo era um valor. E não sei porquê os artistas foram aparecendo: “porque é
que não fazes aqui uma galerazinha? Tinhas os teus amigos e tal”, “mas isso não
me dá nada e o meu sócio ex-patrão dizia: mas isso dá alguma coisa da arte?”,
“Não dá nada” mas eu gosto de fazer coisas que nem todos têm à partida um
interesse materialista.”
José Augusto França chama a
atenção para o facto de o “Clube dos Cem” – exclusivo grupo de cem membros,
apaixonados por colecionar arte que contribuem com cem escudos para um fundo
comum, que seria aplicado na compra de obras de artistas portugueses vivos,
mediante um sorteio – movimentavam verbas superiores às do Museu Nacional de
Arte Contemporânea. Embora a atividade tenha cessado em 1968, após dois anos de
existência do clube, Manuel Brito, tesoureiro durante o tempo de atividade
desse núcleo, viria a canalizar alguns desses contactos para a sua carteira de
clientes, em franco crescimento.
Manuel de Brito refere que
inicialmente pediu a um amigo, a um escultor que o ajudasse a confirmar as suas
escolhas, mas durou um ano. Nessa altura não havia críticos de arte, o amadorismo,
as amizades, também havia pequenos grupos, o grupo de José Augusto França e o
grupo da Galeria de Março que acabou.
Relativamente à evolução do
panorama galerístico, nos anos 70 regista-se a inauguração de galerias, tendo
vivido toda a primeira fase da sua existência um período de forte agitação
política e social e de quase inexistência de mercado de arte, conforme é referido
por Alexandre Melo.
Os galeristas Fernando
Santos e Pedro Oliveira, do Porto, e Cristina Guerra, de Lisboa, surgem na cena
artística 20 anos depois, abrangendo os efervescentes 80, e anos seguintes.
Fenando Santos refere que o
nosso mercado é pequeno, com proeminência de Lisboa, onde está situada a maior
parte das instituições, tornando-se assim difícil a gestão de uma galeria em
Lisboa e no Porto. Iniciou a sua atividade de galerista nos anos 80, a convite
da Galeria Nasoni, no Porto, com um projeto que veio trazer alguma dinâmica ao
mercado da arte. A Nasoni surge numa altura próspera, estava bem posicionada,
tinha boas relações com os meios de negócios. Tornou-se uma referência do
mercado da arte em Portuga. Neste momento o mercado da arte cresceu: Há cada
vez mais artistas e com mais visibilidade. Há mais galerias. Há mais feiras de
arte. Há mais coleções privadas. A internet e as redes sociais, que há 30 anos
não existiam, vieram revolucionar de uma forma drástica a difusão da informação
e da comunicação. O mercado português abriu-se ao mundo.
Julião Sarmento salienta que
hoje o que interessa para a internacionalização é o poder das grandes galerias,
dos grandes colecionadores, dos consultores de arte, e dos curadores
internacionais, afastando assim a hipótese de qualquer galeria portuguesa conseguir
colocar um artista português no topo dessa internacionalização porque Portugal
não tem poder para isso.
Hargreaves, Manuela – Colecionismo e Mercado de Arte em Portugal,
O Território e o Mapa. Porto: Edições Afrontamento, 2013.
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