Hargreaves, Manuela – Colecionismo e Mercado de Arte em Portugal,
O Território e o Mapa. Porto: Edições Afrontamento, 2013.
Manuela Hargreaves traça
neste livro o panorama da arte moderna e contemporânea em Portugal. O pequeno
mundo da arte portuguesa onde são quase inexistentes os estudos de fôlego
dedicados ao colecionismo, ao mercado e, em geral, àquilo que poderíamos chamar
as condições materiais da circulação e da receção dos objetos artísticos.
Um número enorme de artistas
fizeram o corpo do que se pode chamar uma arte portuguesa, isto é, uma arte que
acompanha, em diálogo fecundo, as grandes questões que se levantam à arte no
plano internacional, sem todavia ter que se fazer fora de Portugal, ao longo do
séc. XX, e a começar com Amadeo, o facto é que, nos planos cultural, económico
e simbólico, o país não soube acompanhar esse imenso acontecer.
No plano cultural, desde logo,
ao ver o seu primeiro museu de arte contemporânea, a recém-criada Fundação de
Serralves, abrir as suas portas quando o séc. XX havia já terminado. Nenhuma
instituição pública, portanto, já que solitariamente coube à Gulbenkian,
fundação privada, colmatar em parte essa falha. Não haverá muitos outros
exemplos de tal inanidade na Europa civilizada.
Também a critica, assim como
a história da arte, em Portugal, foram instituições mancas e lentas a
acompanhar o essencial do trabalho dos artistas, só na segunda metade do século
se começou a assistir a um esforço mais sistemático de levantamento e de
atenção crítica à contemporaneidade da produção artística, já que na primeira
metade do século, a reflexão sobre a arte foi escassíssima e as mais das vezes
ficou entregue à mera descrição jornalística. Foi preciso esperar pelos anos 70
do séc. XX para aparecer uma primeira síntese do séc. XX devida a José Augusto
França. Os jornais dedicam cada vez menos espaço à divulgação dessa atividade,
tendo desaparecido as poucas revistas de arte que brevemente existiram. Neste
sentido a imprensa falhou.
No plano económico, o séc.
XX foi igualmente um deserto. Apesar de terem surgido alguns colecionadores,
Augusto Abreu e Jorge de Brito, falhou em Portugal a construção sustentada de
um mercado da arte sólido, capaz de dar consistência à circulação e venda das
obras de arte e tudo ficou confinado à atividade pioneira e histórica de duas
galerias, a Alvarez de Jaime Isidoro e a 111 de Manuel de Brito, já que todas
as demais não passaram de experiência tímidas e temporárias.
A maior parte dos artistas
portugueses, por muito interessante que seja o seu trabalho ficou confinada à
estreiteza medíocre de um cultura que descrê de si mesma e cujos responsáveis
são essencialmente incultos.
A atividade artística
relevante passava quase toda pela Sociedade Nacional de Belas Artes (S.N.B.A.),
nas décadas de 60-70.
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