Os traços gerais que
especificam o capitalismo artístico podem ser reduzidos a quatro lógicas
principais:
Primeira: a integração e
generalização da ordem do estilo, da sedução e da emoção nos bens destinados ao
consumo comercial. O capitalismo artístico é o sistema económico que funciona
para a estetização sistemática dos mercados de consumo, dos objetos e do contexto
quotidiano. Agora o paradigma estético já não é exterior às atividades
industriais e comerciais, mas incorporado nestas. Resulta de um modo de
produção marcado pela osmose ou pela simbiose entre racionalização do processo
produtivo e do trabalho estético, espirito financeiro espirito artístico,
lógica contabilística e lógica imaginaria. Nesta configuração, o trabalho
artístico é mais frequentemente coletivo, confiado a equipas com uma autonomia criativa
limitada, enquadrado por gestores e integrado no seio de estruturas
hierárquicas mais ou menos burocráticas. O facto é que se trata de criar beleza
e espetáculo, emoção e entertainment
para conquistar mercados. Neste sentido, é uma estratégia ou uma “engenharia do
encantamento” que caracteriza o capitalismo artístico.
Segunda: uma generalização
da dimensão empresarial das indústrias culturais e criativas. Agora, os mundos
da arte, constituem cada vez menos um “mundo à parte” ou uma “economia às
avessas” são regidos pelas leis gerais da empresa e da economia de mercado, com
os seus imperativos de concorrência e de rentabilidade. Com o capitalismo
artístico triunfa o management das produções culturais. Mesmo os museus devem
ser geridos como empresas, implementando políticas de comercialização e de
comunicação, fazendo aumentar o número de visitantes e encontrar novas formas
de receita. No capitalismo artístico as obras são julgadas em função dos seus
resultados comerciais e financeiros, muito mais do que pelas suas
características propriamente estéticas.
Terceira: uma nova
superfície económica dos grupos comprometidos nas produções dotadas de uma
componente estética. O que era uma esfera marginal tornou-se num setor
importante da atividade económica envolvendo capitais gigantescos e realizando
negócios de verbas colossais. Já não estamos no tempo das pequenas unidades de
produção de arte mas no de mastodontes da cultura, dos gigantes transnacionais
das indústrias criativas, da moda e do luxo, tendo o globo como mercado.
Quarta: o capitalismo artístico é o sistema no
qual são desestabilizadas as antigas hierarquias artísticas e culturais, ao
mesmo tempo que se interpenetram as esferas artísticas, económicas e
financeiras. Onde funcionavam universos heterogéneos desenvolvem-se, agora,
processos de hibridação que misturam de uma maneira inédita estética e
indústria, arte e marketing, magia e negócio, design e cool, arte e
moda, arte e divertimento.
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