Se a idade hipermoderna do
capitalismo, que é a do mundo desde há cerca de três décadas, é a da
planetarização e financeirização, da desregulação e da excrescência das suas
operações, também é a que está marcada por uma outra espécie de inflação a
inflação estética. Não são apenas as megalópoles, os objetos, a informação, as
transações financeiras que são envolvidas numa escalada hiperbólica, mas o
próprio domínio estético. Eis os mundos da arte envolvidos por sua vez nas
redes do híper, o capitalismo
contemporâneo que incorpora em grande escala as lógicas do estilo e do sonho,
da sedução e do divertimento, nos diferentes setores do universo consumista. Se
há uma bolha especulativa, existe um outro tipo de bolha cujo extremo inflado
não conhece, no entanto, nem crise nem crash,
com a exceção notável do domínio circunscrito do mercado de arte contemporâneo,
cuja bolha especulativa, como vimos, poderia explodir em diferentes momentos,
vivemos o tempo do boom estético sustentado
pelo capitalismo do hiperconsumo.
Com a época hipermoderna
exige-se um novo período estético, uma sociedade sobre-estetizada, um império
onde os sois da arte nunca se põem. Os imperativos do estilo, da beleza, do espetáculo
adquiriram uma tal importância nos mercados de consumo, transformaram de tal
maneira a elaboração dos objetos e dos serviços, as formas de comunicação, de
distribuição e do consumo que se torna difícil não reconhecer o advento de um
verdadeiro modo de produções estética que chega, agora, à maturidade. Chamamos este
novo estado da economia comercial liberal: capitalismo artístico ou capitalismo
criativo, transestético.
No momento da
financeirização da economia e dos seus danos sociais, ecológicos e humanos, a própria
ideia de um capitalismo artístico pode parecer oximórica e mesmo radicalmente
chocante. Contudo, este é o rosto do novo mundo que, ao esbater as fronteiras e
as antigas dicotomias, transforma a relação da economia com a arte como Warhol
transformara a relação da criação artística com o mercado, defendendo uma art business. Depois da época moderna
das disjunções radicais, temos a idade hipermoderna das conjunções, desregulações
e hibridações, onde o capitalismo artístico constitui uma figura
particularmente emblemática.
A importância das lógicas
mercantis no mundo da arte não é nova, mas evidentemente, no momento da
globalização, é um novo patamar que se atinge, como o testemunham
particularmente o crescimento dos investimentos dos colecionadores e os
aumentos vertiginosos a que chegam os preços das obras. A arte aparece cada vez
mais como uma mercadoria entre outras, como um tipo de investimento do qual se
espera uma alta rentabilidade. A idade romântica da arte deu lugar a um mundo
no qual o preço das obras é mais importante e mediatizado do que o valor estético:
é agora o preço comercial e o mercado internacional que consagram o artista e a
obra de arte. Estamos no momento da “arte
business” que vê triunfar as
operações de especulação, de marketing e de comunicação. Se o capitalismo
incorporou a dimensão estética, esta encontra-se cada vez mais canalizada ou
orquestrada por mecanismos financeiros e comerciais. Donde o sentimento muitas
vezes partilhado de que quanto mais o capitalismo artístico domina, menos
haverá arte e mais haverá mercado.
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