Cristina Guerra trabalha com
arte contemporânea desde 1983-84. Abriu a Galeria Cristina Guerra em 2001,
sozinha. Antes trabalhava com a Filomena Soares, de 97 a 99. E antes disso fiz
o Centro Cultural que deu origem ao Centro Cultural de Cascais. Neste momento
tenho artistas a sair para fora a fazerem museus. Quando começaram a trabalhar
comigo as obras custavam 500€ e agora custam 20.000€. Mas demora muitíssimo
tempo, são 10 anos. As galerias têm a cotação real dos artistas, o preço real
de um artista está nas galerias. Para mim o sistema triangular da galeria, do
crítico / curador e do colecionador continua a ser válido e essencial. Um
curador teoriza a obra que o artista faz e portanto há uma melhor compreensão
da obra por parte do colecionador.
Em 97 é que se começou,
porque as pessoas só queriam telas e começaram a comprar papeis. Hoje em dia o
papel pode ser tão caro como uma tela, interessa-lhes a obra em si.
Os colecionadores
Americanos, Ingleses e um pouco os Franceses se gostam de uma obra compram. Os
Suíços e Alemães querem saber o que é que o artista fez, estudam a obra e só
depois é que compram
A partir de 2004 já toda a
gente está na internet e é mais fácil saber o que os artistas estão a fazer.
Cristina Guerra refere que
hoje em dia temos um problema, não há um museu com uma exposição permanente de
artistas portugueses, só há exposições temporárias e vê-se muito pouco artistas
portugueses. Há muitos colecionadores estrangeiros que me perguntam onde podem
ver arte portuguesa e eu tenho de os levar às outras galerias. No Museu Reina
Sofia há um andar que se vê só arte espanhola. Hoje em dia não se vê os
artistas de meia carreira ou se vê os mais velhos ou os muitos novos. O que
acontecia era que os diretores dos museus primavam mais pelas coisas
estrangeiras do que pelas portuguesas, eu acho que deve ser o meio-termo, que é
para se perceber, se contextualizar. O Museu de Serralves está à quatro anos
para comprar. Eu costumo dizer que “agora somos um centro cultural”. Há muita
gente que vem ver mas não compra. Passos Coelho foi a Serralves a primeira vez
na vida à pouco tempo. Isto é incrível, não é? O atual secretário de estado é
uma pessoa que percebe, pelo menos que conhece de tudo. Mas o tipo que está a
dirigir o Instituto das Artes não percebe absolutamente nada. O Mário Soares, o
António Guterres e o Durão Barroso eram pessoas cultas, interessadas que
visitavam as galerias.
Cristina Guerra refere que,
em 2007, a estratégia da galeria com vista a uma maior visibilidade
internacional dos nossos artistas no mercado internacional passou por colocar
alguns artistas com quem trabalhava e que tinha exibido para coleções
internacionais em leilões da Christie’s e da Philips: “o que acontecia é que
tinha de colocar uma obra em leilão e depois teria que ser eu, através de
outras pessoas, que as comprava.” Como não temos mercado muitos colecionadores
vêm os catálogos das leiloeiras, sobretudo internacionais. Há muita gente,
mesmo em Portugal, que estuda arte, mesmo algumas galerias, através das
leiloeiras, para verem a evolução da subida do preço do artista.
Cristina Guerra considera
que está a haver uma evolução do colecionismo privado em Portugal no sentido de
uma maior responsabilidade social e cultural. O interesse deste novo
colecionismo é que a arte portuguesa se internacionalize e por isso oferecem
obras de artistas portugueses para algumas instituições estrangeiras: “neste
momento à colecionadores que compram agora obras, para estarem na Tate. Em que
não vai buscar em mecenato nem nada. É uma coisa que é pratica corrente em
quase todos os países, inclusivamente o Brasil, e que em Portugal não
existe.”
Cita várias coleções de
referência, como a recente coleção da Fundação Miguel Rios, a coleção Elypse
está fechada, tem poucos artistas portugueses, é muito mainstream, há uma outra coleção, mas compra poucos portugueses,
ele é brasileiro, mas a ideia é mais América do Sul e Médio Oriente que é a do
Luís Augusto Teixeira de Freitas, a coleção Cachola é a única exclusivamente de
artistas portugueses, sendo um privado que não é banqueiro, nem empresário, é
um assalariado, consegue fazer uma coleção que toda agente respeita, e algumas
coleções institucionais, a coleção BES Arte, a EDP, e outras que fizeram
coleções mas já deixaram de comprar há muito tempo, casos da PT e da
Culturgest. “Eu não consigo perceber a falta de interesse dos meios
institucionais, ou governamentais, ou estatais, por esta área da arte
contemporânea. Porque economicamente são bens transacionáveis. Como é que não
há mais apoio, nas aquisições fazer alguma coisa pela cultura, já que o turismo
cultural existe e está cada vez mais implantado.”
O que acontece é que
normalmente vem uma crise e os colecionadores desaparecem todos e voltam a
aparecer outros, estamos sempre num recomeço.
Cristina Guerra refere que
tem 70m quadrados em Basileia, e custa-lhe toda a operação 90.000 €, o que é um
disparate. A maioria dos artistas que expõe são portugueses, custa mais ou
menos 10.000€. Menos o desconto de menos de metade, que é o que ela ganha,
normalmente tem prejuízo. A não ser que venda um artista estrangeiro, são peças
de 80.000€, 90.000€, 100.000€, 200.000€. Olhando para o lado financeiro e
económico eu já devia ter desistido à muito tempo. As galerias portuguesas
normalmente vão às feiras de arte da: ARCO, Art Basel, Art Basel Miami, Art
Forum Berlim, FIAC, Vienna Art Fair, Art Rio e Xangai. Eu entrei em Miami em
2002 e em 2003. Os colecionadores vão todos às mesmas feiras. Os nossos
governantes se forem à ARCO já é muito bom, mas alguns nem isso fazem. Quando
eu estava na APGA com Pedro Cera, o Estado apoiava para 2 feiras internacionais
com um stand mínimo. No primeiro ano,
isto à quatro anos atrás, houve 200.000€, agora já foi reduzido para 100.000€.
Aparece umas ajudas fugazes como esta da Joana Vasconcelos, que eu acho
completamente idiota.
Sem comentários:
Enviar um comentário