Alexandre Melo é curador da
coleção do Banco Privado e da Fundação Elypse. A coleção do Banco Privado foi
uma coleção iniciada há mais de meia dúzia de anos e que inicialmente era uma
coleção só de arte portuguesa contemporânea e que estava a ser reunida no
âmbito do protocolo entre o Banco Privado e a Fundação de Serralves, segundo a
qual as obras da coleção do Banco Privado seriam depositadas em Serralves, o
que fazia com que critérios de aquisição e as aquisições fossem decididas em
colaboração por mim enquanto responsável pela coleção do Banco Privado e pelo
diretor artístico de Serralves, na época Vicente Tolodi, já na altura com a
colaboração de João Fernandes, e depois com João Fernandes.
Ao fim de 3 ou 4 anos de
trabalho fez-se uma exposição da coleção do Banco em Serralves, que ocupou todo
o espaço do museu, só de arte portuguesa. Posteriormente o Dr. João Rendeiro,
presidente do Banco, decidiu tornar a coleção aberta à arte internacional,
continuando a colaboração com Serralves. Com a evolução da coleção já com uma
dimensão internacional o Dr. João Rendeiro teve a ideia de criar a Fundação
Elypse, dirigida por ele, com o contributo de outras pessoas de Portugal,
Brasil e Espanha, é uma fundação internacional com sede na Holanda, embora o
centro matriz esteja em Portugal, com o objetivo mais ambicioso de construir
uma coleção de arte contemporânea internacional que se torne uma coleção de
referência para o período de viragem do século, fim do séc. XX, princípio do
séc. XXI. Há 3 curadores e depois há um painel de consultores com quem nós nos
reunimos formalmente uma ou duas vezes por ano.
A coleção tem três
componentes, tem os artistas que nós consideramos históricos, com obras de
final dos anos 70, primeira metade dos anos 80, depois há alguns artistas que
constituem o núcleo central da coleção que tiveram uma afirmação mais forte,
mais original no panorama mundial nos últimos 10, 15 anos, e depois temos os
artistas emergentes, que se começou a ouvir falar nos últimos 5, 6 anos.
Aquela ideia do critério de
arte como o papa que constrói e destrói uma reputação com um texto, penso que
já não existe. Hoje a maioria dos textos que se publicam sobre artes plásticas
não são textos de crítica, são textos noticiosos, reportagens, entrevistas,
notas jornalísticas e da valorização das obras depende dum discurso que é mais
jornalístico, do que propriamente crítico no sentido artístico.
Toda a situação do
colecionismo ao longo do séc. XX é miserável. Portugal chegou ao fim do séc. XX
sem ter nada de nada, é um escândalo, é a demonstração do absoluto
subdesenvolvimento cultural de Portugal ao longo de todo o séc. XX.
A coleção Berardo é uma
coleção que vem modicar de forma significativa a referência do colecionismo e
da arte em Portugal e o contrato de comodato (empréstimo ao Estado) por 10 anos
é equilibrado. A coleção Berardo foi
criada segundo critérios históricos englobando blocos cronológicos à semelhança
de um compêndio ou de uma história de arte, valoriza perspetiva didática e
pedagógica.
Sou atualmente assessor
cultural de José Sócrates sem poder de decisão nem de orçamento.
O mercado da arte hoje passa
essencialmente por Londres e Nova Iorque embora a Alemanha e a França ainda
tenham algum peso, mas há centros de arte a emergir por todo o lado.
É frequente haver exposições
internacionais em que há tantos artistas portugueses como espanhóis, nas mais
novas gerações de artistas.