A obra de arte geralmente obtém o seu título depois de estar
completa ou durante a sua criação, mas a exposição começa com um título. O título
é o conteúdo, a cor e o rumo de toda a produção futura; o título é o que define
significativamente o sucesso da exposição. O tema do barroco pode parecer uma
escolha instantânea para Braga, embora, do ponto de vista da curadoria, não
tenha sido uma escolha assim tão fácil. Anunciando o “Pensar Barroco” como um call for artists aberto, senti-me como afazer apostas, estava entusiasmada. No “Pensar Barroco” falta “o”; o que
eu pretendia era evocar o modo barroco de pensar. Nem tinha a certeza de qual a
reação dos artistas: será que este desafio inspirará algumas propostas excecionais
ou meramente atrairá repetições dos elementos decorativos do que é chamado o “estilo
barroco” ou maneirismo? Venci. As obras artísticas apresentadas para a
exposição têm notavelmente pouco a ver com recordações históricas, seja nas
narrativas ou na solução técnica; são obras contemporâneas; mas têm o espírito
barroco. Há, pois, tantas maneiras de pensar barroco; a aglomeração desta
intenção artística em Braga tem o seu próprio charme, sentido e choque. O
choque resulta da redução habitual do barroco às suas características decorativas.
A arquitetura da cidade reivindica os seus direitos históricos completos de
herança barroca autêntica; a introdução de novas interpretações, na forma de
obras de arte, descongela as margens da perceção habitual e promete uma
continuidade para a grande tradição. A herança barroca, merecendo, serve aqui
como uma ponte estética entre o arcaico e a modernidade: as pedras tomam as
formas vitais e dançam, o metal canta, o ouro brilha, não é possível competir
neste domínio com os mestres antigos. Mas é possível dialogar.
Este é um excerto do texto do catálogo da autoria de:
Madina Zingashina, curadora do projeto ART-MAP Braga
2017