terça-feira, fevereiro 10, 2009

Júlio Resende e Manuel Pereira da Silva na Fundação Lugar do Desenho

Júlio Resende nasceu no Porto a 23 de Outubro de 1917.

Possui o curso de Pintura da Escola de Belas-Artes do Porto (EBAP), onde teve como mestre Dordio Gomes. Inconformado com o distanciamento da sua geração face à realidade artística além fronteiras, funda em 1943, com alguns colegas, o Grupo dos Independentes: realiza Exposição Independente, a primeira de uma série que se prolonga até 1950, com realizações no Porto, Lisboa, Coimbra Leiria e Braga.


(2001) Júlio Resende e Manuel Pereira da Silva na Fundação Júlio Resende.

É bolseiro do Instituto de Alta Cultura, em Paris, onde fica até 1948. Na Escola de Belas-Artes de Paris , especializa-se em pintura mural, sob a direcção de Duco de la Haix. Na Academia Grande Chuamière, recebe lições de Othon Friesz. Nesta altura, descobre, também, os grandes mestres do Louvre.


Uma casa em Korntal.

De regresso a Portugal, fixa-se no Alentejo, desenvolvendo uma pintura com uma estrutura pictórica triangular: Regresso do Trabalho, Caminhantes, Guardador de Cavalos, são alguns dos títulos que sugerem a sua temática. De volta ao Norte, inicia uma nova fase criativa, construindo estruturas geométricas rectangulares. Uma viagem ao Brasil, em 1971, introduz uma nova mudança no estilo do pintor: a diagonal passa a dominar a estrutura do quadro. Sempre com a presença do Homem, a temática é o quotidiano, colhido no Nordeste brasileiro e no Porto ribeirinho. A ilustrar esta fase, uma das obras mais emblemáticas da sua carreira: Ribeira Negra (1984), que, segundo Júlio Resende, «é bem uma síntese de um percurso, ou de uma longa aventura das formas...».



A inspiração da paleta.

Com uma carreira diversificada – pintura a fresco, vitral, painéis cerâmicos, ilustração de obras literárias e cenários teatrais –, Júlio Resende (professor efectivo na EBAP até 1987) tem no curriculum mais de 50 exposições individuais (a partir de 1943) e numerosas colectivas, entre as quais se destacam : Exposição de Artistas Metropolitanos (Luanda), Mostruário de Arte Metropolitana (Goa), XXV Bienal de Veneza, Bienal de Arte de S. Paulo, Exposição Itinerante das obras do Museu de Arte Moderna de S. Paulo, Once Pintores Portugueses (Madrid), Exposição Internacional de Bruxelas, Centro de Arte Contemporânea Altarriba Art (Barcelona) e Portugisisk Grafik Goteborgs Konstmuseum (Suécia). Os prémios são, também, muitos, salientando-se: Prémio Nacional de Pintura da Academia de Belas-Artes, Prémio Armando de Basto, Prémio Sousa Cardoso, Prémio Especial da Bienal de Arte de S. Paulo, primeiro lugar no Concurso para o Monumento ao Infante D. Henrique (com o projecto Mar Novo), Medalha de prata na Exposição Internacional de Bruxelas, 1º Prémio de Artes Gráficas na X Bienal de S. Paulo e Ordem de Mérito Civil do Rei de Espanha (1981).





1949, Mulheres de Mira.

Júlio Resende está representado nos Museus de Soares dos Reis, do Chiado, de Évora, Calouste Gulbenkian, de Arte Moderna de S. Paulo, de Helsínquia, de Aalesund e em muitas colecções particulares na Europa, África e América do Norte e Sul.


Resende entre o Preto e o Branco



1959, Gente do mar.
Resende sempre partiu da ambivalência dos extremos Preto e Branco, na utilização das técnicas empregues.




1960, Tinta da china.


O preto e o branco.
Os extremos tocam-se e não existe um sem o outro. Os dois são generosos para cor.
Haverá pintor que não o reconheça?
Tanto um como o outro servem o Desenho de modo consistente e autores há que os não dispensem como recurso ou como plena afirmação do seu estilo. Se a pintura dos tempos correntes deliberadamente ou não vem desprezando as experiências tecnológicas havidas no passado também tudo o mais mudou mormente os produtos. Não é verdade que o impressionismo fez banir o preto da paleta? Por outro lado o preto e o branco exerceram papel considerável na função espacial da pintura pós-impressionista como é sabido.

1994, Pastel sobre papel.

"Sendo inquestionável a função da cor na pintura reconhecemos que nem sempre os pintores sentiram nela uma forte motivação temperamental. Para que a cor viesse a constituir a génese de um conteúdo assumido como tal, teríamos de aguardar os finais do séc. XIX e o dealbar do séc. XX. Porém, também é sabido que no plano a cor só se reconhece pelo desenho que a comporta. Quando a cor manda, já ela é desenho. Sendo uma intuição do pintor, é frequente em mim a resposta imediata em gesto que tem a razão em si, é já um exercício de visão."

Júlio Resende




2006, Pastel.


A inserção do artista plástico na sociedade é por demais estendível e a razão que baste para o ser. Num espaço urbano é sublinhamento, e não, intervenção. Algo que se sente mais do que vê. Um sentir suficientemente abrangente no espaço global e que se mantém latente no tempo. Assim, parece dever reclamar-se do artista aquela espécie de humildade para reconhecer o momento justo de participar no ambiente exterior ao seu atelier, esse sim, o espaço da experimentação. O pintor se é efectivamente aquele que opera pela via plástica (...) requer um suporte físico, dependendo a sua natureza e robustez consoante as características do local. O muro sempre constituiu para mim, uma espécie de obsessão, sobretudo a partir dos anos 47 quando pela primeira vez deambulei pela Itália. Então, de regresso a Paris, Duco de La Haix instruíra-me quanto às capacidades do "mortier" dando-me "alta" para eu próprio levantar um muro para a pintura a fresco.




"Ribeira Negra" (1984), uma das obras mais conhecidas de Júlio Resende, no Porto.

quinta-feira, fevereiro 05, 2009

Eduardo Tavares (1918-1991)

Eduardo Augusto Tavares nasce a 4 de Julho de 1918, em São João da Pesqueira. Com 12 anos vem morar para Matosinhos. Após a conclusão do 5º ano, trabalha na oficina de um escultor de madeira em Santa Cruz do Bispo. Por volta de 1937, é apresentado ao escultor António Teixeira Lopes, passando a trabalhar no seu atelier, em Vila Nova de Gaia (actual Casa-Museu Teixeira Lopes). Encorajado e recomendado por Teixeira Lopes é admitido, em 1938, no Curso Especial de Escultura da Escola de Belas do Porto, onde foi seu aluno e também de Acácio Lino, Pinto do Couto e Joaquim Lopes. Em reunião de Conselho Escolar, em 1940, é considerado o melhor aluno da escola, recebendo o Prémio do Rotary Club. Enquanto aluno seria também premiado pelo Instituto Britânico, sendo-lhe concedida, a partir de 1941, a bolsa Ventura Terra. Em 1942, matricula-se no Curso Superior de Escultura, que finaliza em 1946, com 19 valores, mediante a apresentação da prova final Toupeira Douriense.

Em 1948, durante quatro meses, frequenta a École Nationale des Beaux Arts de Paris. A passagem pela Escola Francesa irá reforçar o seu gosto pela escultura académica, particularmente pela Figura Humana.

Nos anos quarenta associou-se às exposições do Grupo dos Independentes, fundado em 1943 e composto por artistas como Fernando Lanhas, Nadir Afonso, Manuel Pereira da Silva ou Júlio Resende.

Da sua produção escultórica dos anos 50 avulta uma série de cabeças esculpidas representando personalidades da esfera artística e cultural.

De regresso a Portugal, lecciona no ensino técnico. Com a reforma de 1957 são criadas novas disciplinas. As tecnologias da Escultura são introduzidas no plano curricular da ESBAP, sendo a partir de 1960 até 1985, Eduardo Tavares seu professor. Em 1962, apresenta como provas ao concurso de agregação Maturidade (prova de Composição) e Modelo Feminino (prova de Modelo Vivo).



No âmbito da estatuária, como no da escultura de pequenas dimensões, constata-se a preferência pelo tratamento da figura humana, tema que estudou profundamente, e, sobre o qual publicou vários textos.

Em 1995, a Faculdade de Belas Artes do Porto realizou uma exposição de homenagem a Eduardo Tavares, a única individual do escultor.

Grande parte da sua obra pode ser vista no Museu Eduardo Tavares em São João da Pesqueira. Resultante de uma doação à Câmara Municipal de S. João da Pesqueira, a colecção deste museu apresenta um núcleo de obras da autoria de Eduardo Tavares que abrange um período de cerca de três décadas, situando-se entre 1952 e 1982.

No Porto deixou a sua marca com as obras “geometria” (baixo-relevo, no edifício da antiga Biblioteca Infantil da Biblioteca Pública Municipal do Porto), na Praça de Marquês do Pombal e “Ricardo Jorge”, no Jardim do Hospital de S. João.

Além da actividade docente e da produção de escultura, também se dedicou à escrita, sendo autor de três livros teóricos sobre arte: Do ”Número de Ouro” à Figura Humana; Da Geometria de Miguel Ângelo na Capela Sistina: Giotto, Piero della Francesca, Verrocchio, Botticelli, Perugino, Leonardo da Vinci, Rafael, Ticiano, El Greco e Anatomia Artística, o último dos quais editado postumamente.

domingo, fevereiro 01, 2009

Arlindo Rocha



Arlindo Rocha e Manuel Pereira da Silva



Arlindo Rocha, 1921 – 1999
Natural do Porto, formou-se em Escultura, na Escola Superior de Belas Artes do Porto, em 1945.
Em 1953, obteve uma bolsa do Instituto de Alta Cultura, para Itália e, em 1959, uma bolsa da BCG para o Egipto e a Grécia e visita os principais Museus da Europa.
Foi um dos membros do Grupo portuense "Independentes" (anos 40).
Foi premiado com uma medalha de prata na Exposição Universal de Bruxelas (1958), com o Prémio do Salão dos Novíssimos, de 1959.
Tem obras em espaços públicos – quartéis, escolas, palácios de justiça, jardins, etc., como por exemplo em Setúbal, Viseu e Porto.


Clérigos (Porto), Bispo do Porto.


Arlindo Rocha é considerado um pioneiro da escultura abstracta em Portugal, podendo considerar-se ao lado de Manuel Pereira da Silva, Jorge Vieira, e Fernando Fernandes no movimento que emancipou a escultura da sua vocação estatuária. As peças "Mulher e Árvore", de 1948 e "Ciência", de 1961, esta de um abstraccionismo radical, são marcos fundamentais na escultura portuguesa do século passado.
A sua obra tendeu irremediavelmente para a geometrização absoluta. No entanto, nos últimos anos regressou a um figurativismo rígido, correspondendo a encomendas para locais públicos.


Fonte Luminosa de Setúbal: A Poesia, O Mar e A Terra.


A Abstracção, via ensino da Escola de Paris, em duas vertentes, ora de pendor geométrico ora de carácter lírico e gestual, manifesta-se abertamente com vultos nacionais de muito prestígio: Maria Helena Vieira da Silva, expoente da "École de Paris", e cá, dentro de portas, Fernando Lanhas, Nadir Afonso, Manuel Pereira da Silva e Arlindo Rocha.