quinta-feira, outubro 04, 2012

Catálogo da Exposição "Envolvências"


Ficha Técnica: Manuel Pereira da Silva “Envolvências…”
Exposição
Organização: Pelouro da Cultura da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia, Casa-Museu Teixeira Lopes, Junta de Freguesia de Avintes e Parque Biológico de Gaia.
Comissário da Exposição: Delfim Sousa.
 Projeto de Montagem: Delfim Sousa e Pedro Nunes.
Coordenação Técnica de Montagem: Laurinda Dias.
Montagem: Equipa Técnica da Casa-Museu Teixeira Lopes.
Restauro: Daniela Prata.
Serviço Educativo: Delfim Sousa.
Data: 12 de Março a 23 Abril de 2011 na Casa-Museu Teixeira Lopes e de 23 de Junho a 23 de Julho de 2011 no Parque Biológico de Gaia.
Catálogo
Textos: Delfim Sousa, Nuno Gomes Oliveira Pedro Nunes e Manuela Nunes.
Fotografia: Lauren Maganette.
Design: Grafislab.
Execução Gráfica: Grafislab.
Impressão e Acabamento: Grafislab.
Edição Pelouro da Cultura da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia, Casa-Museu Teixeira Lopes e Parque Biológico de Gaia.
Nº Exemplares: 250.



Esta exposição é também uma homenagem a Manuel Pereira da Silva, aqui, nesta sala do Aureliano Lima, amigo de Manuel Pereira da Silva, que ajudou muito Aureliano Lima, nomeadamente cedendo o seu ateliê, Manuel Pereira da Silva prolongava também no seu ateliê o ensinamento, a ajuda a entreajuda entre artistas.

Estes momentos de abstracionismo aqui revelados nalgumas esculturas em que saliento a forma como Manuel Pereira da Silva representa a família, o homem a mulher e os filhos, através de linhas geométricas tão bonitas. As esculturas de Manuel Pereira da Silva começam sempre pelos desenhos, que é a alma do artista, normalmente os escultores desenham sempre muito bem.

Manuel Pereira da Silva foi também um grande interventor social, foi Presidente da Junta de Freguesia de Avintes, participou na criação e na estrutura diretiva de algumas Associações de Avintes assim como contribuiu com o seu trabalho, através da realização de estátuas, bustos e medalhas para todas as coletividades de Avintes, sua terra natal, de uma forma generosa. 

Delfim Sousa Diretor da Casa-Museu Teixeira Lopes
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Nasceu no lugar de Portelas, Avintes, em 1920. Fez a instrução primária na Escola de Cabanões, o ensino secundário na Escola Faria de Guimarães (Soares dos Reis) e ingressou na Escola de Belas Artes do Porto onde terminou o curso com brilhantismo, sendo contemplado, por isso, com os prémios Soares dos Reis e Teixeira Lopes. De seguida, Manuel Pereira da Silva rumou a Paris na companhia do seu condescipulo, o famoso pintor Júlio Resende. Ali frequentou vários cursos de escultura e aprendeu a técnica do “fresco”.

Montou atelier na Rua Afonso de Albuquerque, em Gaia e, mais tarde, transferiu-o para Avintes. Para complementar a sobrevivência, Manuel Pereira da Silva, foi professor do ensino secundário. Manuel Pereira da Silva desenvolveu a sua arte num tempo de grande renovação artística. Pontificava na pintura a estética do cubismo de Pablo Picasso e a escultura era influenciada pelas obras de de Auguste Rodin e Constantin Brancusi. Neste caldo fervilhante de inovação, Manuel Pereira da Silva, como qualquer outro artista, ousou e sonhou criar um estilo original.

É autor, entre outras, das seguintes obras: Frescos da Capela-Mor da Igreja de Santa Luzia de Viana do Castelo, baixo-relevo Pedro Pitões no Palácio da Justiça do Porto, monumento a Fernando Couto em Sandim, monumento ao Lavrador em Gulpilhares, monumento ao Padre Araújo em Avintes, monumento ao Atleta em Avintes, monumento aos Bombeiros em Avintes, Gondomar e Freamunde; Quanto a bustos, Manuel Pereira da Silva é autor das seguintes obras: Fernando Pessa e José Hermano Saraiva, Lisboa, Francisco Viana, Henrique Moreira, Adriano Sá Figueiredo e Dr. Adelino Gomes, todos em Avintes e Alves de Sousa em Vilar de Andorinho.

Escultor com elevada sensibilidade para as temáticas sociais, Manuel Pereira da Silva pôs o seu talento ao serviço de várias associações ou movimentos cívicos avintenses e foi um exemplo de generosidade, de descrição nos gestos e de empenhamento na construção da cidadania e da democracia. Em 13 de Abril de 1987, foi-lhe atribuída, pela Assembleia de Freguesia de Avintes, a Medalha de Honra e em 2000 a Medalha de Ouro de Mérito Cultural pela Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia. (1920-2003)

Nuno Gomes Oliveira
Presidente da Junta de Freguesia de Avintes e Diretor do Parque Biológico de Gaia
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A obra de Manuel Pereira da Silva tem uma orientação formal abstrata inspirada na figura humana, em particular no homem e na mulher. Reconhecem-se duas orientações, distintas nos respetivos propósitos estéticos: as peças concebidas em conformidade com a tradição académica do século XIX europeu, em geral respondendo a encomendas; as peças que, conservando de uma forma essencial a figura humana como referente, se afastam da sua representação naturalista, antes obedecendo a critérios formais de sentido abstrato, exercitando uma das vias pelas quais o modernismo acedeu à abstração pura, entendida esta como a criação de formas nas quais não se evidencia, ou não existe de facto, referente figurativo.

As primeiras esculturas modernistas de Manuel Pereira da Silva surgiram nos anos pioneiros do abstracionismo escultórico em Portugal. A arte abstrata portuguesa está historicamente ligada às exposições “independentes”, cujo principal organizador e animador, Fernando Lanhas, é coincidentemente a figura central desse abstracionismo. Após uma I Exposição, em Abril de 1943, nas instalações da Escola de Belas Artes do Porto, onde já se poderá verificar a presença do futuro “núcleo duro” dos “independentes”, como sejam Júlio Resende, Fernando Fernandes, Nadir Afonso, Arlindo Rocha, Altino Maia, Mário Truta, Serafim Teixeira, Augusto Tavares e Manuel Pereira da Silva. As exposições “independentes” passam a ter lugar fora da Escola e, várias vezes, fora do Porto. Este movimento só faria sentido pela conjuntura formada pelos Diretores da Escola Superior de Belas Artes do Porto nos anos 40, onde Dordio Gomes, na Pintura, Barata Feyo, na Escultura, e Carlos Ramos, na Arquitetura, permitiram um novo fôlego, respirando as vanguardas artísticas que se continuavam a afirmar na Europa.

No Porto, os estudantes de todos os cursos, Arquitetura, Pintura e Escultura, conviviam intimamente, não só por terem estudos preparatórios comuns, como pelo facto das três Artes serem consideradas inseparáveis. Havia discussões sobre o Modernismo na Arte, e um latente inconformismo em relação ao ensino clássico. São inúmeros os exemplos de estreita colaboração de Artistas Plásticos em obras de Arquitetura. Da colaboração com o Arquiteto Carlos Neves, Manuel Pereira da Silva realiza uma decoração mural a fresco da sapataria “Branca de Neve” na Rua Santa Catarina, no Porto e duas figuras decorativas em edifícios no Jardim do Marquês de Pombal, no Porto.

No território africano sob domínio colonial português, menos sujeito à pressão dos cânones culturais do Estado Novo e ao mesmo tempo com mais necessidades de construção urbana, houve espaço para que os artistas portugueses pudessem explorar livremente o Movimento Moderno. Vários arquitetos portugueses, sobretudo os da Escola do Porto, tentaram que os edifícios fossem obras completas, integrando a arquitetura e a arte – painéis de azulejos, murais em pastilha vidrada, painéis cerâmicos, murais em mármore gravado, murais de seixos embutidos, desenhos figurativos e abstratos, formas geométricas, cores. Manuel Pereira da Silva também fez parte deste movimento moderno, na escultura, com trabalhos realizados em Moçambique, Guiné-Bissau e Angola. Participa na Exposição da Vida e da Arte Portuguesas em Lourenço Marques, Moçambique (1946). Em 1955, Manuel Pereira da Silva concebeu a estátua a Ulysses Grant, 18º Presidente dos E.U.A., vencedora do concurso público lançado para o efeito, pelo Ministério do Ultramar, erigida frente ao edifício dos Paços do Concelho de Bolama, na Guiné-Bissau. Em 1960, Manuel Pereira da Silva realizou, "África", este baixo-relevo, em faiança policromada, destinado à decoração da fachada de um edifício situado na marginal da Baía de Luanda, Angola.

Em meados do século XIX, a Praça Nova foi um núcleo da vida social da cidade do Porto, ponto de encontro da Geração Romântica. O Passeio da Cardosa, também conhecido por "Real Clube dos Encostados", era um local de reunião da vida literária e boémia. Os cafés que foram surgindo em torno desse espaço, na Baixa portuense, desempenharam um importante papel de locais públicos de intercâmbio de ideias e de difusão de culturas. Poderemos mesmo dizer que, no Porto, os cafés rivalizaram com as academias na divulgação de obras literárias, nas discussões sobre correntes estéticas e artísticas, no debate político sobre planos de luta e resistência ao poder instituído. O Café Palladium, aberto em 4 de Novembro de 1940, ocupou quatro pisos do edifício de Marques da Silva, cujas obras de reconversão foram da autoria de Mário de Abreu. Tinha salão de jogos, salão de chá e um cabaret. Atraía uma clientela ligada à Arte e às Letras, como Jorge de Sena, José Régio, Adolfo Casais Monteiro, SantAna Dionísio, Alfredo Pereira Gomes, Alberto Serpa, Nadir Afonso, Júlio Resende, Manuel Pereira da Silva, entre outros, e foi encerrado nos anos 70. Na Praça de D. João I, o Café Rialto projetado por Artur Andrade, em 1944, ocupava o edifício mais alto do país nessa época, da autoria de Rogério de Azevedo, possuindo no piso térreo um mural de Abel Salazar 28 e na cave frescos de Dordio Gomes e Guilherme Camarinha, e na escadaria um painel cerâmico de António Duarte. Era frequentado por Arménio Losa e pela sua esposa, a escritora Ilse Losa, também por António Ramos de Almeida que dirigia a Página Cultural do Jornal de Notícias, pelos poetas Pedro Homem de Melo, Papiniano Carlos, Manuel Pereira da Silva, Daniel Filipe, Luís Veiga Leitão, António Rebordão Ramalho, e também pelos membros do Teatro Experimental do Porto: António Pedro, Dalila Rocha, João Guedes, Augusto Gomes, Fernanda Alves, Vasco Lima Couto e Egipto Gonçalves. Encerrou em 1972, dando também lugar a uma agência bancária.

Estas são nada mais do que algumas pinceladas sobre o seu trabalho.
Pedro Nunes Pereira da Silva
Manuela Nunes Pereira da Silva