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sábado, março 27, 2010

Arquitecto Carlos Neves



A Importância da salvaguarda de edifícios e conjuntos de interesse Patrimonial na Cidade do Porto, que possam testemunhar as influências do Movimento Moderno e reflectir uma atitude uníssona de intervenção Urbanística e Arquitectónica.

A Rua de Ceuta é um desses exemplos e reflecte uma fase de transformação urbana ao nível de uma Arquitectura integrada. Como eixo transversal da Avenida dos Aliados, iniciado com a Rua Elísio de Melo, estabelece uma articulação com a Praça D. Filipa de Lencastre. Aqui se implantam edifícios notáveis, registando também exemplares de uma Arquitectura corrente, distante da monumentalidade, mas próxima de uma eficácia projectual.

Neste conjunto urbano podemos encontrar plasmada uma História da Arquitectura em Portugal, durante as décadas de 30 a 50, reflectindo também as diversas maneiras de pensar o Urbanismo e as Artes Plásticas. Num reduzido espaço físico, encontramos obras com um tão longínquo conceito ideológico.

A Rua de Ceuta é um exemplo de bom gosto urbanístico, ou não tivesse sido gizada no Gabinete de Urbanização do Município, então liderado (1942) pelo jovem Arménio Losa que, animado pelos ideais da arquitectura moderna, se tornaria com o tempo numa das referências da sua arte a nível nacional. Mas é, também, o exemplo acabado da falta de arrojo. E de dinheiro.

Na memória descritiva do empreendimento que deu azo à abertura daquela artéria está fundamentada a razão pela qual foi abandonado o projecto de Geovanni Muzio de prolongar a Rua de Elísio de Melo, que na altura parava na Rua do Almada, até à Praça de Guilherme Gomes Fernandes - implicava um volume avultado de expropriações - e define-se a sua directriz a partir da Praça de D. Filipa de Lencastre em direcção à Praça de Carlos Alberto. Arménio Losa e os seus colaboradores iam mais longe, ao propor que o novo arruamento deveria atravessar aquela praça em direcção ao Jardim do Carregal. Para eles, a nova Rua de Ceuta - cuja abertura só se iniciou em 1950 - justificava-se por razões "imperiosas de economia, salubridade e estética".

Que a rua foi aberta e constitui hoje em dia uma lufada de ar fresco no conturbado miolo urbano do Porto não há que ter dúvidas. O pior foi o resto em 1952, o seu prolongamento até o Carregal, passando por Carlos Alberto e cruzando a Rua de José Falcão, foi protelado por razões financeiras e, no mesmo ano, Antão de Almeida Garrett, no Plano Regulador da Cidade do Porto, fixou a Rua de Ceuta tal como hoje se apresenta. Inacabada. E assim "morreu" a ideia de Arménio Losa e do seu Gabinete, tanto mais que o Plano Auzelle (1962) confirmou o destino amputado daquela artéria, que seria rematada no topo, segundo aquele urbanista francês, com um edifício em "U". Era o abandono de um travessamento da cidade que deveria começar na Praça dos Poveiros e terminar no Carregal.

Admitiu-se, nos anos 70 do século passado, que o prolongamento da Rua de Ceuta poderia ir até Carlos Alberto ou, de forma modesta, até ao Largo do Moinho de Vento, chegando mesmo a Câmara a autorizar a construção de dois imóveis que preencheriam o gaveto com a Rua de José Falcão. Mas nada mais foi decidido quanto à continuação propriamente dita. O certo é que até Carlos Alberto já não poderá ir na medida em que para isso acontecer deveria ser demolido um dos prédios que vai ser alvo de reabilitação pela SRU - precisamente aquele onde esteve sediada a sede de campanha de Humberto Delgado, o general sem medo.

O Edifício 10 "Café Ceuta" – 1952, na Rua de Ceuta, 20-34, da autoria do Arquitecto Carlos Neves, com um tratamento de sombras, de "tendência moderna", com um sistema de quebra luzes semelhante do projecto de Arménio Losa (Edifício 9). O Edifício 15 - R. de Ceuta, 53/57 – 1954, é também da autoria de Carlos Neves.

Em comparação com outras obras de Carlos Neves, como o prédio Correia da Silva, na Praça General Humberto Delgado, em 1948, e as Habitações na Foz, em 1943, verificamos um maior gesto de modernidade nos edifícios por ele projectados para a Rua de Ceuta, também pelo facto de serem de datas posteriores, após uma assimilação de conceitos.

No primeiro caso, tal como no edifício contíguo de Passos Júnior, são condicionados pela cornija do edifício dos Paços do Concelho, e revelam um "modernismo contido sem grandes ousadias, de uma linguagem standard".

Nas habitações na Foz, com Francisco Granja, de 1943, são claras as referências ao "Português Suave". Trata-se de moradias em banda, resolvendo o gaveto numa configuração circular, com tendência para uma composição simétrica, quebrada apenas pela topografia do terreno, usando o granito no embasamento e nas molduras.

Da colaboração com o Arquitecto Carlos Neves, Manuel Pereira da Silva realiza uma decoração mural a fresco da sapataria “Branca de Neve” na Rua Santa Catarina, no Porto e duas figuras decorativas em edifícios no Jardim do Marquês de Pombal, no Porto.

ABREU, José Guilherme Ribeiro Pinto - A Escultura no Espaço Público do Porto do séc. XX. Inventário, História e Perspectivas de Interpretação. Dissertação de Mestrado. Porto: Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 1998.

GRAVATO, Maria Adriana Pacheco Rodrigues – Trajecto do Risco Urbano. A Arquitectura na cidade do Porto, nas décadas de 30 a 50 do século XX, através do estudo do conjunto da Avenida do Aliados à Rua de Ceuta. Dissertação de Mestrado em História da Arte em Portugal, Arquitectura do século XX. Porto: Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 2004.

sexta-feira, março 26, 2010

A Arte em Portugal no Século XX (1911-1961)



Num clima de independência face ao poder ditatorial exercido pelo Regime do Estado Novo, plebiscitado através da Constituição de 1933, a Cidade do Porto, pelo seu distanciamento físico em relação à Capital, respirava alguma liberdade ideológica e artística.


De facto, essa tradição de autonomia cultural vem desde o início do século XX, tendo o Porto visto nascer personalidades verdadeiramente vanguardistas no panorama nacional.


O cenário das Artes Plásticas em Portugal era dominado pelo Secretariado da Propaganda Nacional (SPN), assumido em 1933 por António Ferro, que a partir de 1944 passou a designar-se Secretariado Nacional de Informação (SNI).


Dispensou alguma protecção aos praticantes da Arte Moderna por duas razões: a primeira, porque "a percepção de que o necessário «equilíbrio da maturidade» seria filho da saudável «audácia dos vinte anos» ", e a segunda porque "a «arte viva» muito mais facilmente se prestaria «à divulgação das coisas». Os interesses do poder estariam na base dos apoios dispensados às vanguardas. "


Para o efeito, em 1934, começou por disponibilizar gratuitamente um estúdio e uma galeria, não descriminando nenhuma "escola" ou "tendência" artística. Pretendia assim, "utilizando os vivíssimos traços da modernidade artística", simbolizar o "autoritarismo português como força dinâmica e portadora de futuro".


Os locais dedicados às Artes Plásticas no Porto nos anos 30 foram o Salão Silva Porto na Rua de Cedofeita, na Rua Passos Manuel o Ateneu Comercial do Porto e o Salão Passos Manuel, a Galeria Portugália localizada na Rua de 31 de Janeiro, o Palácio de Cristal e a Bolsa Portuense.


Em 1929, um grupo de jovens estudantes da Escola de Belas Artes, o "Grupo Mais Além", inaugura uma Exposição no Salão Silva Porto, tendo elaborado um manifesto contestando o ensino da Academia, voltando a expor em 1931 e desaparecendo depois. Dele faziam parte, entre outros, Augusto Gomes, Domingos Alvarez, Guilherme Camarinha, Ventura Porfírio, Luís Reis Teixeira, Adalberto Sampaio, Amélia Mesquita, Abel Moura, Mendes da Silva, Laura Costa e Sara Alvim Pena, tendo o encontro surgido na sequência da contestação a uma homenagem a Marques de Oliveira.


A "Primeira Grande Exposição Colonial Portuguesa" ocorreu no Porto, no Palácio de Cristal em 1934, quando o Estado Novo vivia o seu período de euforia e grande pujança, no qual assentavam as bases de um sistema conservador e repressivo. Salazar segurava com firmeza as rédeas do poder, exaltando o slogan -"Deus Pátria e Família: a trilogia da Educação Nacional". Os focos de contestação estavam fragilizados e a glorificação do sonho ultramarino do "Portugal do Minho a Timor", exortado pelo Regime, teve o seu reflexo nesta exposição, que os portuenses aplaudiram, pela sua pertinência cultural, apesar da carga propagandística.


Durante os anos 40, a natureza subjacente às encomendas públicas que foram sucedendo ao trabalho dos artistas, alterou o processo criativo nacional. O grande princípio do Regime era a "afirmação da identidade nacional", e nesse sentido, a evocação do período áureo das descobertas marítimas, para consolidação do Império Colonial Português. O palco principal dessa grande afirmação foi a "Exposição do Mundo Português", de 1940, em Lisboa.


Mais uma vez, o Porto avança com a criação de um movimento de renovação, um grupo de artistas, estudantes e professores da Escola Superior de Belas Artes do Porto, que organizaram um conjunto de exposições a partir de 1943 até 1950, o designado "Grupo dos Independentes". Expuseram nesse grupo, entre outros, Amândio Silva, António Lino, Arlindo Rocha, Fernando Lanhas, Júlio Pomar, Júlio Resende, Victor Palia, Abel Salazar, Américo Braga, António Cruz, Augusto Gomes, Guilherme Camarinha, Henrique Moreira, Nadir Afonso, Manuel Pereira da Silva e Querubim Lapa.


O que os unia era a recusa de tendências académicas, a abertura a todas as correntes, não impondo compromissos estéticos e divulgando novas tendências como o Neo-realismo, o Abstraccionismo Geométrico (figurativo ou não), e o Expressionismo, que aliás se espelham nas obras plásticas presentes nos edifícios da nossa área em estudo.


Essa independência reflecte-se, por exemplo, na obra de Júlio Resende, que partindo de uma vertente neo-realista pelas preocupações sociais manifestadas, vai metamorfoseando a tensão dramática para um lirismo expressionista.


"Havia um comungar de ideias que contrariavam um bocadinho o estado da altura. A nossa independência vinha do facto de cada um ser uma pessoa com ideias suas, próprias e pintando com isso mesmo [...]. A Escola estava de corpo e alma com o nosso movimento. "


Este movimento só faria sentido pela conjuntura formada pelos Directores da Escola Superior de Belas Artes do Porto nos anos 40, onde Dordio Gomes, na Pintura, Barata Feyo, na Escultura, e Carlos Ramos, na Arquitectura, permitiram um novo fôlego, respirando as vanguardas artísticas que se continuavam a afirmar na Europa.


Dordio Gomes, sendo considerado por muitos como o pintor português que melhor sentiu a influência estética de Cézanne, foi o responsável pela criação de um ateliê de pintura a fresco na Escola Superior de Belas Artes do Porto, fruto da experiência das pesquisas realizadas em Itália sobre os fresquitos de Quatrocentos. Realizou um conjunto de obras de pintura a fresco na cidade do Porto, como no Café Rialto em 1944, na Igreja de N. Sr.ª da Conceição, em 1947, na Faculdade de Belas Artes do Porto, em 1952/53, no edifício da Câmara Municipal do Porto, em 1957, e no Palácio da Justiça, em 1959/60. As influências da sua obra e da sua actividade pedagógica, revelam-se no carácter "colorista" que serviu de referência a numerosos discípulos, que procuraram uma maior investigação na área da "Arte Mural", reflectindo essa procura nas diversas obras que se espalham por toda a Cidade.


Em Lisboa, a partir de 1946, o "Movimento de Unidade Democrática" (MUD), organiza a "I Exposição Geral de Artes Plásticas" (EGAP), com a participação de artistas que se opunham claramente ao Regime. Foi um veículo de divulgação do Neo-realismo, numa tentativa de aproximar a Arte do Povo, uma ideia libertadora que aproximou os diferentes artistas, num esforço de cooperação.


Representado na Literatura por autores como Alves Redol, este movimento surgiu nos finais dos anos 30 e defendia a denúncia da realidade social, tendo por base a ideologia de inspiração marxista: a problemática social invadira o mundo da Arte.


Na Pintura, partiu da admiração das pinturas mexicanas de Rivera, Siqueiros, e do brasileiro Portinari sobre o ciclo do café, que se encontravam nos respectivos Pavilhões aquando da Exposição do Mundo Português, em 1940. Com grande capacidade plástica, pretendia-se representar o mundo do trabalho, dos campos e das fábricas, com expressividade e didactismo, num sentido oposto à Arte burguesa.


No pós Segunda Guerra Mundial, começa a notar-se um período de oposição ao Fascismo na Europa, facto que traz consequências para o panorama cultural português, que começa a revelar uma maior dinâmica.


Com a criação, em 1945, do Cineclube do Porto e do Teatro Experimental do Porto, iniciou-se um processo de agitação cultural, que animou a cidade, num País marcado pela vigilância e repressão.


E nessa data que a revista "O Tripeiro" retoma a sua publicação periódica, como um órgão cultural portuense de registo e divulgação de memórias.


Os Jornais começaram a interessar-se pela publicação de suplementos literários e culturais, que noticiavam essa dinâmica cultural. "O Comércio do Porto", dirigido por Costa Barreto, tinha Óscar Lopes como crítico literário. No "Jornal de Notícias", a página cultural era dirigida por Ramos de Almeida, e Alberto Serpa dirigia a página cultural de "O Primeiro de Janeiro".


Um espaço de grande importância foi também a Academia e "Galeria Alvarez", inaugurada em 1954, por onde passavam os professores e estudantes das Belas Artes.


Com a criação de novas infra-estruturas produtoras e divulgadores de actividades culturais, a existência de galerias, cafés e livrarias onde se realizavam tertúlias e colóquios, o Porto regista a proliferação de espaços que propiciaram a divulgação das problemáticas culturais por excelência, com o necessário e atento apoio dos meios de comunicação social.


Verificamos existirem no Porto exemplares que nos permitem descrever a História da Arquitectura em Portugal, durante as décadas de 30 a 50, nas suas tendências Artes Déco, Modernismo Radical, Português Suave, e Estilo Internacional com os "Cinco princípios da Arquitectura Moderna". A Arquitectura confirma-se como uma disciplina cheia de vicissitudes e idiossincrasias, enfatizadas pelos percursos mais coerentes ou mais versáteis dos seus autores.


Sensíveis participantes no diálogo entre as Artes, os Arquitectos recorriam frequentemente à participação dos Artistas Plásticos, cujas intervenções assimilaram o carácter simbólico de cada edifício e a sua forma arquitectónica, resultando em contributos emblemáticos que não mais tiveram paralelo.


FRANÇA, José-Augusto - A Arte em Portugal no Século XX (1911-1961). Lisboa: Livros Horizonte, 2009.

quinta-feira, março 25, 2010

Arquitectura Modernista em Portugal



A "Carta de Atenas", publicada em 1935, é relativa às conclusões do IV Congresso Internacional de Arquitectura Moderna de 1933, subordinado ao tema "A Cidade Funcional", e resultou num manifesto de uma programação urbana, em oposição ao caos da Cidade Industrial. As propostas são relativas às quatro funções da Cidade, Habitação, Recreio, Trabalho e Circulação, medidas à escala humana, onde o interesse privado se deveria subordinar ao interesse público.


Em Portugal, em 1945, dá-se a inserção das Cadeiras de "Urbanologia" e "Teoria e História do Urbanismo" nos Cursos de Arquitectura das Escolas de Belas Artes, introduzindo-se diversos conceitos, como por exemplo, a hierarquização de redes viárias, os núcleos direccionais e o zonamento.


No Congresso Nacional de Arquitectos de 1948, acontecimento simultâneo com a Exposição sobre "Quinze anos de Obras Publicas", que reflectia os princípios urbanísticos da tradição e do nacionalismo, surge em oposição a ideia de um novo conceito de Cidade, apresentada por três Arquitectos que se destacaram pela defesa da "Cidade Radiosa" e da "Carta de Atenas": Viana de Lima, Arménio Losa e Lobão Vital.


Não será possível compreender a evolução da Arquitectura e Urbanismo Modernos sem ter em consideração as suas contínuas relações com a Arte, bem como as relações entre as "Artes", que durante o século XX potenciaram cada vez mais debates, num espírito conceptual e crítico. Essas influências foram-se manifestando em diversas variantes, quer através do mimetismo formal, quer através de um paralelismo metodológico e processual.


A nível internacional, houve um período, no início do século, em que os Pintores e os Arquitectos trabalhavam lado a lado, com a solicitação recíproca de desmontar os vínculos herdados pela tradição. Os movimentos de vanguarda europeus fomentaram um intercâmbio de resultados entre as experiências dos Arquitectos e dos Pintores, nas quais pretendiam mudar as convenções culturais.


A Bauhaus, instituída em 1919 em Weimar, referiu na sua proclamação para que fosse criado "o novo edifício do futuro, que englobe a arquitectura e a escultura e a pintura nessa unidade, e que um dia se elevará aos céus pelos mais de um milhão de trabalhadores como um símbolo de cristal de uma nova fé."


Em Portugal, essa integração verificou-se com a adopção dos códigos da Arquitectura Brasileira do pós-guerra, traduzindo na obra arquitectónica elementos plasticizantes, dinamismo, alegria e desejo de libertação. A cor é usada como elemento plástico, pintada nas superfícies, ou explorada através das características dos materiais


Os painéis cerâmicos surgem como um desejo de retomar um revestimento tradicional, de fortes raízes na Cultura e Arte Decorativa Portuguesa, mas de um modo actual, com uma atitude contemporânea de "Revisão Vernacular do Movimento Moderno". Os painéis de azulejo, com intervenções de diversos artistas, pensados como uma obra de Arte integrada na Arquitectura, obtêm um resultado de grande vigor plástico na produção arquitectónica dos anos 50.


Em Lisboa, destacam-se a colaboração de Almada Negreiros com Pardal Monteiro, e, como um exemplo notável de "obra total", o Bloco das Águas Livres de Nuno Teotónio Pereira, de 1956, com um estudo de cor de Frederico George, baixos-relevos de Jorge Vieira, mosaicos de Almada Negreiros e um vitral de Cargaleiro.


O Centro Comercial do Restelo, de Chorão Ramalho, tem a colaboração plástica de Querubim Lapa, que em conjunto com Victor Palia, intervieram em diversas Escolas Primárias.


Keil do Amaral desenvolveu no Campo Grande a temática regionalista, integrando painéis cerâmicos e peças escultóricas, com o sentido de uma ideia de "Arte Pública": um painel de azulejos de Júlio Pomar, uma escultura de Canto da Maya e uma cerâmica de Jorge Barradas.


No Porto, os estudantes de todos os cursos, Arquitectura, Pintura e Escultura, conviviam intimamente, não só por terem preparatórios comuns, como pelo facto das três Artes serem consideradas inseparáveis. Havia discussões sobre o Modernismo na Arte, e um latente inconformismo em relação ao ensino clássico. São inúmeros os exemplos de estreita colaboração de Artistas Plásticos em obras de Arquitectura.


Para além dos que irão ser referidos mais pormenorizadamente, temos a Casa do Amial, projectada em 1953 por Celestino de Castro, com um estudo de cor de Júlio Pomar.


Também se verificam algumas parcerias entre Arquitectos e Artistas Plásticos, com alguma longevidade, e com bastantes testemunhos provados, como Arménio Losa com Augusto Gomes, José Carlos Loureiro e Agostinho Ricca com Júlio Resende, Carlos Neves e Manuel Pereira da Silva, e Júlio de Brito e Rogério de Azevedo com Henrique Moreira.


As intervenções deste Escultor, discípulo de Teixeira Lopes na Academia Portuense de Belas Artes, de uma corrente Proto-modernista, verificaram-se em diversas colaborações com Rogério de Azevedo, como já pudemos constatar, nos edifícios do Comércio do Porto e no Hotel Infante Sagres, num modelo em que a Arquitectura serve de suporte à Escultura, experimentado também na remodelação do Teatro Rivoli, de Júlio de Brito nos anos 40, nos frisos interiores em gesso pintado e na platibanda em baixo relevo, em que também colaborou o escultor Manuel Pereira da Silva.


Desta parceria com Rogério de Azevedo, também são da sua autoria, em 1947, um baixo-relevo em mármore no Edifício Rialto, um busto em mármore a João de Deus, no Jardim Escola da Constituição, e um elemento escultórico, em bronze e granito, no Jardim do Passeio Alegre, homenagem a Raul Brandão.


Para além das diversas esculturas que pontuam diferentes espaços públicos na Cidade, nas suas criações para edifícios destacam-se: a "Águia", em bronze, do Café Imperial, em 1936; o "índio" do Café Guarany, um baixo-relevo em mármore; na Capela de N. Sª de Fátima um baixo-relevo em mármore; em 1939, baixos-relevos em granito para a Bolsa do Pescado de Januário Godinho e para o Frigorífico do Bacalhau; um baixo-relevo em Pedra de Ançã na Igreja de St.0 António dos Congregados, em 1949; baixos-relevos em granito para a Igreja de N. Sª da Conceição entre 1945 e 1949; e em 1957, para a Câmara do Porto, as cariatides e os atlantes de granito.


Todos estes exemplos da obra de Henrique Moreira seguem um modelo mais clássico de integração da Escultura na Arquitectura.


No edifício da Fábrica das Sedas, na Rua do Monte dos Burgos, projectado por Arménio Losa em 1943, existem, nos volumes salientes, dois baixos-relevos de Augusto Gomes, com uma concepção integrada na proposta arquitectónica, correspondentes a duas figuras, uma masculina e outra feminina, com elementos vegetalistas e alusivos ao Trabalho, à Industria e ao Mar, temas recorrentes da obra deste autor.


O Cinema Batalha, projecto de Artur Andrade, datado de 1944 e concluído em 1947, teve as participações artísticas de Júlio Pomar e Américo Braga. Do primeiro, frescos nos foyers junto às escadas; do segundo, um baixo-relevo, em terracota, na fachada lateral voltada para a Praça da Batalha. Ambas as intervenções provocaram uma agitação política e social, após a queixa da Câmara Municipal do Porto ao Ministério do Interior. Os frescos foram recobertos com tinta plástica e no baixo-relevo foram retirados a foice e o martelo.


"Painel colocado sem qualquer tipo de remate sobre o plano liso da parede lateral do edifício, com figuras femininas e masculinas distribuídas em três alturas, representando figuras reais e alegóricas sobre um fundo aqui e além pontuado por estrelas que remetem para o universo do cinema.


No plano inferior figuram os únicos personagens vestidos e calçados de forma realista, constituindo o suporte simbólico de toda a composição, em alusão ao trabalho. Do lado esquerdo, junto a uma árvore da vida e à frente de uma seara, uma camponesa segura com o antebraço um molho de trigo, e com a mão direita ergue uma foice.


No centro, um operário junto a uma construção, carrega aos ombros uma grossa corrente de ferro que a mão esquerda sustém, enquanto a mão direita, antes de ser mutilada empunhava um martelo. Ainda neste plano, uma figura sentada concebida de forma idealizada, exibe um livro, alusão à criação artística. Nos planos superiores, entidades originárias de concepção clássica parecem pairar metaforicamente num universo etéreo e intemporal, plasticamente integradas pela combinação de classicismo, característica do neo-realismo."


O espírito de vanguarda de Artur Andrade não se reporta unicamente à radicalidade do desenho arquitectónico na notável solução do gaveto onde consegue, em simultâneo, a ligação à malha urbana e o destaque volumétrico, mas também a inserção de um conjunto de obras de Arte, de carácter neo-realista, que surgem claramente como oposição ao Regime. Neste caso, a "Síntese das três Artes" acaba por incluir a própria evolução formal da fuga à sobriedade geométrica, recorrendo a formas mais complexas que a gíria da época designava como "formas de sofisma".


Nos anos 50, o Cavan começou a ser publicitado e utilizado como revestimento de edifícios, iniciando-se uma pesquisa para tirar partido estético da sua plasticidade, já que era possível, mediante os aditivos coloridos e o tipo de granulado de mármore ou calcário utilizados, desenhar motivos diversificados, em que as cores eram separadas por um perfil metálico.


O edifício de habitação na Praça D. Afonso V, projectado por Francisco Pereira da Costa, em 1953, possui elementos decorativos, em Cavan, nos topos das fachadas laterais. O rés-do-chão, destinado a comércio, possui um pórtico que estabelece a transição entre o espaço privado e o espaço público da Praça, correspondendo ao sistema estrutural, que se vê padronizado na malha geométrica dos restantes pisos. A existência dos elementos decorativos nas fachadas laterais reporta a uma clara referência ao Movimento Moderno.


Na Escola Primária da Constituição, um projecto de Alexandre de Sousa, Arquitecto da Câmara Municipal do Porto, entre 1956 e 58, pode observar-se na caixa de escadas, um mural de Martins da Costa sobre marmorite azulado, que corresponde à técnica do Cavan, bem como uma pintura a têmpera do mesmo autor, no refeitório e polivalente, de uma temática infantil e lúdica.


Outros exemplos de aplicação do Cavan, como revestimento de feição estética, são uma moradia de Arménio Losa na Avenida dos Combatentes, dos anos 50, onde o muro lateral possui um painel com um desenho abstracto, e o Bairro de Paranhos, ou do Outeiro, onde a sua concepção como Bairro Social de iniciativa municipal, do início dos anos 60, não impediu a sua qualificação plástica, com painéis em cada um dos blocos, de motivos variados e um figurativismo geométrico. A criação da Via de Cintura Interna veio dificultar uma percepção mais aproximada.


As criações de Jorge Barradas, em 1950, para o Palácio Atlântico, projecto de 1946 da sociedade de arquitectos /ARS, referem-se a um painel relevado em faiança, no interior, e a um conjunto de painéis cerâmicos no tecto da arcada exterior. A temática mitológica, com incidência nas referências ao folclore nacional e à prática de trabalhos campestres, enquadra-se no uso a que se destinava o edifício, a pretendida exaltação de valores nacionalistas do "Portugal de Além-Mar".


Na Igreja de N. Sª da Boavista, projecto de Agostinho Ricca, de 1979, para além de quinze placas cerâmicas vidradas, de 16,5 centímetros, datadas de 1986, intituladas "Passos da Paixão de Cristo e uma Ressurreição", existem outras obras de Júlio Resende, como os Vitrais, o "Cristo no Calvário" e um tapete que cobre a zona central da Igreja. Este caso vem mostrar que, independentemente da formação académica do Arquitecto, vocacionada para concepção artística, quando intervém um artista com a versatilidade disciplinar de Júlio Resende, toda a obra arquitectónica ganha uma substantiva profundidade.


FERNANDES, José Manuel - Arquitectura Modernista em Portugal. Lisboa: Gradiva, 1993.

sábado, janeiro 02, 2010

Leilão de Pintura Contemporânea


Foram vendidas quatro composições com Técnica Mista, uma composição de Guache e uma composição a Carvão, do Escultor Manuel Pereira da Silva no Leilão de Pintura Contemporânea, realizado pelo Palácio do Correio Velho.

Leilão de Arte Moderna e Contemporânea


O Escultor Manuel Pereira da Silva esteve representado no Leilão de Arte Moderna e Contemporânea, realizado pelo Palácio do Correio Velho, com um quadro a Óleo sobre tela, duas composições com Técnica Mista e uma composição de Guache e Aguarela.