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segunda-feira, fevereiro 15, 2010

O Centenário do Escultor Henrique Moreira



Muito se escreveu já sobre o artista e a sua obra escultórica, de abundante produção, contudo, seria uma lacuna imperdoável deixar sem qualquer registo a passagem do centenário do seu nascimento.

A Comissão da Festa da Broa de Avintes, em colaboração com a Junta de Freguesia, souberam trabalhar a tempo de forma a ser condignamente assinalada tão valiosa efeméride avintense. Assim se pode ler o relato do acontecimento na Revista do Caminho Novo de 1 de Dezembro de 1990.

O monumento, cuja inauguração será feita durante o mês de Janeiro, é um trabalho do Escultor Manuel Pereira da Silva que, mais uma vez, com aquela generosidade que lhe é peculiar, pôs o seu talento ao serviço da sua querida Terra, enriquecendo-a artisticamente com mais uma bela obra, onde o busto de Henrique Moreira se destaca de um fundo granítico.

O local situa-se no lugar da Portela, naquele pequeno largo, devidamente ajardinado, ele sera´uma pequena sala de visitas do populoso lugar, dando-lhe uma moldura mais nobre.

domingo, fevereiro 07, 2010

A Estatutária de Avintes



Berço de artistas, designadamente entalhadores, arquitectos, pintores e escultores, entre outros. Avintes haveria necessariamente de exibir, com natural orgulho, as criações dos seus filhos.
Chama-nos a atenção este trabalho, da autoria de Fernando Soares Reis, publicado na Revista Caminho Novo de 1 de Dezembro de 1988, para os escultores Avintenses, autores de peças espalhadas por todo o País e pelo ex-Ultramar Português e que entraram também nos edifícios públicos e Museus.

A lista nominal inicia-se no findar do século XiX, com António Fernandes de Sá e prolongar-se-á pelos tempos fora, porque a vocação artística enraizada no sangue Avintense jamais se extinguirá. Refira-se também que neste blog de arte há recém-licenciados das Belas-Artes à espera do momento propício para imporem o seu talento na arte contemporânea.
Compõem a lista do nosso blog de arte os escultores: Fernandes de Sá, Henrique Moreira, Herculano Figueiredo, Manuel Pereira da Silva e Joaquim Vieira. Com excepção de Herculano Figueiredo que a doença impediu de revelar a sua verdadeira dimensão de artista plástico, os demais são escultores de variadíssimos trabalhos (que têm suscitado a atenção de críticos de arte e historiadores de arte) entre os quais os dispersos em Avintes e que podem ser apreciados na via pública, nas colectividades e no cemitério paroquial.

De autor desconhecido é a Pedra da Audiência. Até talvez nem tenha autor, mas a sua componente histórica possui riqueza monumental.
Variada na concepção, na forma e no estilo, a estatutária de Avintes vai desde a arte clássica até à arte nova e, em algumas peças, encontra-se uma junção de estilos, todas se identificando com os seus autores.

Manuel Pereira da Silva tem apostado ultimamente na combinação de estilos (arte figurativa e arte abstracta), volumes e materiais diversificados, criando conjuntos escultóricos belos no efeito e harmoniosos na forma, os quais também não precisam de assinatura para serem reconhecidos.
Sem pretendermos neste blog de arte entrar nos caminhos da crítica de arte, vamos penetrar apenas na história de arte subjacente à concepção da estatutária de Avintes começando pela mais antiga.

Pedra da Audiência – Monumento Nacional catalogado nos Edifícios e Monumentos Nacionais por decreto nº35817, publicado no Diário do Governo, de 20 de Agosto de 1946. É ex-líbris de Avintes e emblema do Clube Recreativo Avintense. A Pedra da Audiência é o único vestígio que nos resta do extinto couto de Avintes. Foram postas ali aquelas pedras em 1742 para servirem em conjunto com um sobreiro secular de Tribunal. As audiências faziam-se às quartas-feiras, pelo meio-dia. No banco mais alto sentava-se o Juiz do couto, empunhando uma vara vermelha, enquanto o escrivão escrevia sobre a mesa, e o meirinho apregoava as arrematações.

D. Maria Fernandes Chitra – Busto esculpido em mármore, da autoria do escultor Fernandes de Sá, colocado no jazigo da família Fernandes de Sá no cemitério paroquial. O busto de sua mãe é uma obra aonde o cinzel trabalhou de forma brilhante e carinhosamente, é nela que todo o poder emocional do artista se faz sentir, dando ao mármore uma verdadeira interpretação psicológica, para além do classicismo das suas linhas. È um dos mais belos exemplares de escultura contemporânea portuguesa.

Alfredo de Oliveira Dias Penedo (meu avô) – Busto em bronze, colocado no salão da Associação Recreativa “Os Plebeus Avintenses”, da autoria do escultor Manuel Pereira da Silva.
Alfredo de Oliveira Dias Penedo, licenciado em Farmácia pela Universidade do Porto, para além de fundador e de proprietário da primeira sede, foi animador, actor e encenador assíduo
Do grupo cénico “Os Plebeus” – durante mais de 50 anos, qualidades reconhecidas na homenagem prestada a título póstumo, com o descerramento do seu busto na nova sede da colectividade no dia 26de Dezembro de 1975.

Manuel Monteiro da Fonseca, baixo-relevo em bronze, colocado na parede do átrio principal do quartel-sede dos Bombeiros Voluntários de Avintes da autoria do escultor Joaquim Vieira.
O autor da obra, então um jovem finalista dos cursos de pintura e escultura de Belas-Artes do Porto. Esta escultura, que representa bem o carácter de Manuel Monteiro da Fonseca, foi descerrada, no dia 18 de Fevereiro de 1967, data da inauguração do quartel, e constitui a homenagem devida ao benemérito que foi o maior impulsionador do empreendimento.

Atleta, conjunto escultórico existente na placa ajardinada do antigo Largo da Gândara, actual Praça Escultor Henrique Moreira, da autoria do escultor Manuel Pereira da Silva.
A ideia do monumento partiu da Comissão Executiva das Comemorações das Bodas de Ouro do Futebol Clube de Avintes, que entendeu ser esse o momento próprio para esta freguesia prestar uma homenagem ao atleta universal, independentemente de raças e cor ou modalidades praticadas, gesto tido como impar em todo o País. O monumento foi inaugurado em 22 de Dezembro de 1973, com a presença do Presidente da Câmara Municipal de Gaia, Dr. Ramiro de Queirós, do Presidente da Federação de Atletismo, Engenheiro Correia da Cunha, do Governador Civil do Porto, Major Paulo Durão e o Director Geral dos Desportos, Professor Noronha Feio.

Dr. Adelino Gonçalves Gomes, busto em bronze, assente numa peanha de pedra lavrada, encontra-se na frontaria do Clube Recreativo Avintense, da autoria do escultor Manuel Pereira da Silva, foi inaugurada no dia 1 de Junho de 1952. A escultura representa uma manifestação de gratidão e de apreço de toda a freguesia ao filantropo. O Dr. Adelino Gomes era o sócio nº1 do Clube Recreativo Avintense e fora, em 1904, seu presidente da Direcção.

Bombeiro Voluntário, peça em bronze, representando o movimento de um bombeiro na posição de subir a escada, assente numa base de cantaria, está na localizada na praceta dos Bombeiros Voluntários de Avintes, da autoria do escultor Manuel Pereira da Silva, inaugurada em no dia 25 de Agosto de 1985, por altura das comemorações das Bodas de Ouro da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Avintes, registou a presença da Secretária de Estado da Emigração, Dr.ª Manuela de Aguiar e do Governador Civil do porto, Dr. Cal Brandão e do Presidente da Câmara Municipal de Gaia, António Coutinho da Fonseca.

Padeira de Avintes, escultura em bronze assente numa base construída em granito lavrado, da autoria do escultor Henrique Moreira, encontra-se na Praça Henrique Moreira. Peça em bronze, ao tamanho natural, foi solicitada ao escultor pelo Presidente da Junta de Freguesia, José Maria Alves Pereira, com a finalidade de perpetuar essa figura de mulher bela e pujante – A Padeira de Avintes, inaugurada em 27 de Abril de 1974.

Monumento ao Espírito Missionário e ao Padre José Marques Gonçalves de Araújo, conjunto escultórico instalado na placa ajardinada da Rua da escola Central, em frente à Igreja Paroquial, da autoria do escultor Manuel Pereira da Silva, inaugurada em 26 de Dezembro de 1982. O monumento compõe-se de uma forma de figura humana abraçando o mundo, construída em aço inoxidável, a base é de granito lavrado e os restantes elementos: baixo-relevo do Padre Araújo, esfera armilar, símbolo missionário e as letras da frase evangélica “Ide e ensinai todas as gentes”.
Engenheiro Eduardo Arantes e Oliveira, busto em bronze colocado numa peanha de pedra lavrada, implantada na Praceta dos Bombeiros Voluntários de Avintes, da autoria do escultor Henrique Moreira. O homenageado, ao tempo Ministro das Obras Públicas, visitou esta terra várias vezes, foi um interessado protector da construção do quartel-sede dos Bombeiros, inaugurada em 13 de Agosto de 1970.

segunda-feira, fevereiro 01, 2010

Escultor Manuel Pereira da Silva



Na edição de Dezembro de 1986, a Revista Camino Novo, propriedade do Clube Recreativo Avintense, faz referência a uma estátua alusiva ao Bombeiro Voluntário Avintense concebida pelo escultor Manuel Pereira da Silva e inaugurada em 25 de Agosto de 1985, pela Secretária de Estado da Emigração, Drª Manuel Aguiar.

domingo, janeiro 10, 2010

“Bodas de Diamante" do Grupo Mérito Dramático Avintense


O Grupo Mérito Dramático Avintense ao apresentar o Boletim comemorativo das suas “Bodas de Diamante”, 1910 – 1995, quer contribuir um pouco mais para a divulgação da sua actividade multifacetada no conjunto das manifestações culturais, recreativas e beneficentes de Avintes.






A Junta de Freguesia de Avintes atribuiu ao Grupo Mérito Dramático Avintense a medalha de Mérito, em prata, em sinal de reconhecimento pelos serviços prestados ao desenvolvimento cultural do povo de Avintes.









Ambas as medalhas foram concebidas pelo Escultor Manuel Pereira da Silva.

quarta-feira, janeiro 06, 2010

Exposição da Vida e da Arte Portuguesas em Moçambique


Exposição da Vida e da Arte Portuguesas, assim se denominava a breve panorâmica do País, que a Agência Geral do Ultramar organizou para figurar em Lourenço Marques, a quando da visita de Sua Excelência o Presidente da República, General Craveiro Lopes, à província de Moçambique, em 1956.

Em verdade, nesta exposição não se dará mais do que uma visão apressada do muito que se poderá mostrar da Terra Portuguesa na Europa, na África e no Oriente.

O que somos no mundo e como somos em Portugal, sugere-se um conjunto, forçosamente incompleto, da vida nacional contemporânea.

As manifestações cultas de arte, apresentam-se depois, nas sua variadas expressões e técnicas.

Óleos, esculturas, desenhos, aguarelas, cerâmicas, vitrais, tapeçarias, ferros forjados, livros, encadernações, etc., numa série valiosa de trabalhos compreendidos em toda a gama de expressões plásticas, mostram-se nas salas destinadas à representação artística do País. Esta Exposição de Arte, sem restrições abarca, com a maior amplitude, toda a criação plástica, desde as artes aplicadas e decorativas, até à pintura e escultura, e desde os nomes já consagrados até aqueles que moderadamente vão aparecendo a revolucionar as forma e as cores.


O Escultor Manuel Pereira da Silva participou nesta exposição na categoria Aguarela e Desenho, com os trabalhos número: 394 – Desenho; 395 – Guache; e 396 – Aguarela “Cabeça de Cristo”. Na categoria Escultura apresentou uma peça com o número 331 – Escultura, no valor de 20.000$00.





O catálogo da exposição faz também referência à participação do Escultor Manuel Pereira da Silva nos II e III Salões de Cerâmica Moderna (S.N.I.) e nos I e II Concursos Nacionais de Artes e Ofícios, onde obteve, respectivamente, os 2º e 1º Prémios (1954 e 1955).

domingo, janeiro 03, 2010

No baixo-relevo para o Palácio da Justiça do Porto, Manuel Pereira da Silva é o artista de concepção mais moderna de todos


O Palácio da Justiça do Porto foi inaugurado em 20 de Outubro de 1961.

Possui uma valiosíssima decoração artística, quer interior quer exterior, confiada a alguns dos melhores Pintores e Escultores Portugueses, num total de vinte e três, que executaram cinquenta baixos-relevos, pinturas a fresco e tapeçarias. Estas obras de arte contemporânea da mais variada concepção integram-se num pensamento comum de representação plástica: a Força do Direito como razão profunda da realidade nacional.

O baixo-relevo em granito do escultor Manuel Pereira da Silva, na sala de audiências do 3ºJuízo, faz-nos remontar às origens da nacionalidade e mostra-nos o Bispo do Porto, D. Pedro Pitões, no terreiro da Sé, exortando os cruzados a ajudar D. Afonso Henriques na tomada de Lisboa.

Conforme consta do catálogo do Palácio de Justiça do Porto – MCMLXI, da Bertrand (Irmãos), Lda.

Participarão na decoração do edifício, além de Manuel Pereira da Silva, os escultores Euclides Vaz, Leopoldo de Almeida, Sousa Caldas, Salvador Barata Feyo, Lagoa Henriques, Gustavo Bastos, Irene Vilar, Maria Alice da Costa Pereira, Henrique Moreira, Eduardo Tavares, Arlindo Rocha e os pintores, Martins da Costa, Coelho de Figueiredo, Severo Portela, Amândio Silva, Martins Barata, Dordio Gomes, Guilherme Camarinha, Isolino Vaz, Augusto Gomes, Júlio Resende e Sousa Felgueiras.




"No baixo-relevo para o Palácio da Justiça do Porto, Manuel Pereira da Silva é o artista de concepção mais moderna de todos os que colaboraram em obras de escultura."

"Numa simplicidade de linhas, D. Pedro de Pitões apresenta-se rodeado de algumas figuras de Cruzados que procuravam ir para terras do Oriente combater os infiéis. Há uma abundância de linhas geométricas, quer nas vestes episcopais, quer nas armaduras dos guerreiros."

in Joaquim Costa Gomes – Três Escultores de Valia: António Fernandes de Sá, Henrique Moreira e Manuel Pereira da Silva. Ed. Confraria da Broa de Avintes.

Mas compreende-se o porquê deste seu anseio. Espírito em formação criativa, ele queria uma pista de identificação artística que fosse o seu próprio sinete.

sábado, janeiro 02, 2010

Leilão de Pintura Contemporânea


Foram vendidas quatro composições com Técnica Mista, uma composição de Guache e uma composição a Carvão, do Escultor Manuel Pereira da Silva no Leilão de Pintura Contemporânea, realizado pelo Palácio do Correio Velho.

Leilão de Arte Moderna e Contemporânea


O Escultor Manuel Pereira da Silva esteve representado no Leilão de Arte Moderna e Contemporânea, realizado pelo Palácio do Correio Velho, com um quadro a Óleo sobre tela, duas composições com Técnica Mista e uma composição de Guache e Aguarela.

sexta-feira, janeiro 01, 2010

Cotação de Artistas Portugueses



Jean-Pierre Blanchon, um francês apaixonado por pintura, escreveu um livro com as cotações de 1500 artistas portugueses, o Cotação de Artistas Portugueses em Leilão – Guia 2006/2010 (Edição do Autor). O autor tem uma loja de antiguidades no Espaço Chiado e uma leiloeira.


Logo que chegou a Portugal, em 1991, deu seguimento ao seu vício de não perder nenhum leilão. Economista de formação, a insuficiência de dados para catalogar os artistas incomodava-o. Meteu-se ao trabalho: analisando catálogos de leilões, conseguiu avaliar a evolução de 50 pintores portugueses entre 1974 e 1994. E concluiu que apenas o investimento em bolsa tinha conseguido superar a rentabilidade média da pintura portuguesa nesse período — cujos valores oscilavam entre 6,6% e -2,8% — em relação à inflação.


Blanchon do alto da sua experiência, garante que a pintura vale a pena. E alerta: não hesite em deixar-se levar pelo coração, pois uma assinatura nem sempre garante um bom investimento.
Neste guia podemos constatar que o Escultor Manuel Pereira da Silva teve 10 obras suas em leilão, durante o período referido (2006/2010), tendo sido vendidas 7 pinturas em Aguarela.

segunda-feira, dezembro 28, 2009

“Três Escultores de Valia”



A publicação deste trabalho literário de carácter biográfico e crítico, é relativa a três escultores de Avintes de nomeada: António Fernandes de Sá, Henrique Moreira e Manuel Pereira da Silva – três glórias da nossa terra.


Honrando Avintes e as suas raízes culturais, bem como a instituição que o apadrinha – Confraria da Broa de Avintes – Joaquim Costa Oliveira Gomes retrata a vida e a obra destes escultores.

quinta-feira, abril 09, 2009

Os Independentes e o início da arte abstracta portuguesa

A agitação dos anos do pós-guerra explica-se facilmente. O final da Guerra, com a vitória das democracias contra os fascismos Italiano e Alemão, fez acreditar na possibilidade de mudança de regime em Portugal. Muitas pessoas pensaram que as potências ocidentais levariam Salazar a demitir-se. Na acção anti-salazarista, o Partido Comunista Português constituía a força política mais organizada, apesar de se encontrar na clandestinidade. Ora, o anticomunismo primário de Truman, que recentemente chegara à chefia dos Estados Unidos devido à morte de Roosevelt, facilitou as permanências de Salazar e de Franco no poder.

Mas não se podia, em 45, impedir o lógico, natural e legitimo júbilo dos antifascistas. Afinal, qual era a dívida do mundo livre para com os milhões de mortos da Guerra, com uma percentagem enorme de soviéticos? Defender a liberdade.

Os artistas plásticos vanguardistas procuraram dar o seu contributo político. O Neo-Realismo atraiu a maioria.

A fragilidade pedagógica e a perseguição política que existiam na Escola de Belas Artes de Lisboa fez com que alguns alunos mais decepcionados, senão politicamente perseguidos, deslocarem-se para a Escola de Belas Artes do Porto, onde a habilidade superiormente política e pedagógica do Arquitecto Carlos Chambers Ramos, assim como o ensino do Pintor Dordio Gomes e do Escultor Barata Feyo, lhes deu melhor acolhimento. Daqui surgiu o Grupo dos Independentes do Norte.

A arte abstracta portuguesa está historicamente ligada às exposições independentes, cujo principal organizador e animador, Fernando Lanhas, é coincidentemente a figura central desse abstraccionismo.

Após uma I Exposição, em Abril de 1943, nas instalações da Escola Superior de Belas Artes do Porto, com esculturas de Altino Maia, Mário Truta, Arlindo Rocha, Serafim Teixeira, Eduardo Tavares e Manuel Pereira da Silva, as exposições independentes passam a ter lugar fora da Escola e, várias vezes fora do Porto, um primeiro exemplo de descentralização e vontade de difusão que apesar de tudo, não evitará uma certa marginalização dos artistas do Porto em relação aos acontecimentos e iniciativas de maior visibilidade e impacto da capital.

A II Exposição Independente apresenta-se, em Fevereiro de 1944, no Ateneu Comercial do Porto, com esculturas de Altino Maia, Arlindo Rocha, Eduardo Tavares, Joaquim Meireles, Manuel da Cunha Monteiro, Maria Graciosa de Carvalho, Mário Truta, M. Félix de Brito, Manuel Pereira da Silva e Serafim Teixeira. será a partir daí que a acção de Fernando Lanhas se fará sentir, na consistente qualidade dos catálogos e das exposições, bem como na persistência em manter vivas as iniciativas.

A III Exposição Independente tem lugar, no mesmo ano, no salão do Coliseu do Porto, com esculturas de Abel Salazar, Altino Maia, António Azevedo, Arlindo Rocha, Eduardo Tavares, Henrique Moreira, Manuel Pereira da Silva, Mário Truta, e Sousa Caldas. No catálogo da exposição, em itinerância por Coimbra, Leiria e Lisboa, em 45, esclarece-se que o nome de “independente” não é um nome ao acaso, mas implica a consciência de que a arte é um património da humanidade e daí a “a nossa variadíssima presença”, entendendo-se que o presente deve activar-se para alicerçar o futuro, não se podendo negar ao passado o direito de recordar-se (1).
Para Fernando Lanhas as “Exposições Independentes” do Porto marcam um momento histórico significativo na nossa pintura e escultura. Primeiro, porque reúnem pintores e escultores de formação diferente (a razão de ser da palavra “Independente” vem da não filiação num “ismo” particular), empenhados numa igual acção colectiva e mergulhados no mesmo entusiasmo. Segundo, porque nelas aparece, sem preconceitos nem complexos, esta abstracção original e fecunda. E, em terceiro lugar, porque escapam à voracidade centralizadora da capital (2).

Entre 46 e 50, realizam-se mais quatro exposições independentes, na Galeria da Livraria Portugália, no Porto, em 46, 48, e 50, e uma em Braga em 49.

De 1943 a 1950, expuseram em quase todas as exibições os pintores Amândio Silva, Aníbal Alcino, António Lino, Carlos Chambers Ramos, Dordio Gomes, Fernando Lanhas, Júlio Pomar, Júlio Resende, Nadir Afonso, Rui Pimentel e Vítor Palla.



(1) MATOS, Lúcia Almeida (2007) – Escultura em Portugal no século XX (1910-69). Edição: Fundação Calouste Gulbenkian.

(2) FUNDAÇÃO DE SERRALVES (1999) – Panorama da Arte Portuguesa no Século XX. Porto: Fundação de Serralves.

terça-feira, fevereiro 10, 2009

Júlio Resende e Manuel Pereira da Silva na Fundação Lugar do Desenho

Júlio Resende nasceu no Porto a 23 de Outubro de 1917.

Possui o curso de Pintura da Escola de Belas-Artes do Porto (EBAP), onde teve como mestre Dordio Gomes. Inconformado com o distanciamento da sua geração face à realidade artística além fronteiras, funda em 1943, com alguns colegas, o Grupo dos Independentes: realiza Exposição Independente, a primeira de uma série que se prolonga até 1950, com realizações no Porto, Lisboa, Coimbra Leiria e Braga.


(2001) Júlio Resende e Manuel Pereira da Silva na Fundação Júlio Resende.

É bolseiro do Instituto de Alta Cultura, em Paris, onde fica até 1948. Na Escola de Belas-Artes de Paris , especializa-se em pintura mural, sob a direcção de Duco de la Haix. Na Academia Grande Chuamière, recebe lições de Othon Friesz. Nesta altura, descobre, também, os grandes mestres do Louvre.


Uma casa em Korntal.

De regresso a Portugal, fixa-se no Alentejo, desenvolvendo uma pintura com uma estrutura pictórica triangular: Regresso do Trabalho, Caminhantes, Guardador de Cavalos, são alguns dos títulos que sugerem a sua temática. De volta ao Norte, inicia uma nova fase criativa, construindo estruturas geométricas rectangulares. Uma viagem ao Brasil, em 1971, introduz uma nova mudança no estilo do pintor: a diagonal passa a dominar a estrutura do quadro. Sempre com a presença do Homem, a temática é o quotidiano, colhido no Nordeste brasileiro e no Porto ribeirinho. A ilustrar esta fase, uma das obras mais emblemáticas da sua carreira: Ribeira Negra (1984), que, segundo Júlio Resende, «é bem uma síntese de um percurso, ou de uma longa aventura das formas...».



A inspiração da paleta.

Com uma carreira diversificada – pintura a fresco, vitral, painéis cerâmicos, ilustração de obras literárias e cenários teatrais –, Júlio Resende (professor efectivo na EBAP até 1987) tem no curriculum mais de 50 exposições individuais (a partir de 1943) e numerosas colectivas, entre as quais se destacam : Exposição de Artistas Metropolitanos (Luanda), Mostruário de Arte Metropolitana (Goa), XXV Bienal de Veneza, Bienal de Arte de S. Paulo, Exposição Itinerante das obras do Museu de Arte Moderna de S. Paulo, Once Pintores Portugueses (Madrid), Exposição Internacional de Bruxelas, Centro de Arte Contemporânea Altarriba Art (Barcelona) e Portugisisk Grafik Goteborgs Konstmuseum (Suécia). Os prémios são, também, muitos, salientando-se: Prémio Nacional de Pintura da Academia de Belas-Artes, Prémio Armando de Basto, Prémio Sousa Cardoso, Prémio Especial da Bienal de Arte de S. Paulo, primeiro lugar no Concurso para o Monumento ao Infante D. Henrique (com o projecto Mar Novo), Medalha de prata na Exposição Internacional de Bruxelas, 1º Prémio de Artes Gráficas na X Bienal de S. Paulo e Ordem de Mérito Civil do Rei de Espanha (1981).





1949, Mulheres de Mira.

Júlio Resende está representado nos Museus de Soares dos Reis, do Chiado, de Évora, Calouste Gulbenkian, de Arte Moderna de S. Paulo, de Helsínquia, de Aalesund e em muitas colecções particulares na Europa, África e América do Norte e Sul.


Resende entre o Preto e o Branco



1959, Gente do mar.
Resende sempre partiu da ambivalência dos extremos Preto e Branco, na utilização das técnicas empregues.




1960, Tinta da china.


O preto e o branco.
Os extremos tocam-se e não existe um sem o outro. Os dois são generosos para cor.
Haverá pintor que não o reconheça?
Tanto um como o outro servem o Desenho de modo consistente e autores há que os não dispensem como recurso ou como plena afirmação do seu estilo. Se a pintura dos tempos correntes deliberadamente ou não vem desprezando as experiências tecnológicas havidas no passado também tudo o mais mudou mormente os produtos. Não é verdade que o impressionismo fez banir o preto da paleta? Por outro lado o preto e o branco exerceram papel considerável na função espacial da pintura pós-impressionista como é sabido.

1994, Pastel sobre papel.

"Sendo inquestionável a função da cor na pintura reconhecemos que nem sempre os pintores sentiram nela uma forte motivação temperamental. Para que a cor viesse a constituir a génese de um conteúdo assumido como tal, teríamos de aguardar os finais do séc. XIX e o dealbar do séc. XX. Porém, também é sabido que no plano a cor só se reconhece pelo desenho que a comporta. Quando a cor manda, já ela é desenho. Sendo uma intuição do pintor, é frequente em mim a resposta imediata em gesto que tem a razão em si, é já um exercício de visão."

Júlio Resende




2006, Pastel.


A inserção do artista plástico na sociedade é por demais estendível e a razão que baste para o ser. Num espaço urbano é sublinhamento, e não, intervenção. Algo que se sente mais do que vê. Um sentir suficientemente abrangente no espaço global e que se mantém latente no tempo. Assim, parece dever reclamar-se do artista aquela espécie de humildade para reconhecer o momento justo de participar no ambiente exterior ao seu atelier, esse sim, o espaço da experimentação. O pintor se é efectivamente aquele que opera pela via plástica (...) requer um suporte físico, dependendo a sua natureza e robustez consoante as características do local. O muro sempre constituiu para mim, uma espécie de obsessão, sobretudo a partir dos anos 47 quando pela primeira vez deambulei pela Itália. Então, de regresso a Paris, Duco de La Haix instruíra-me quanto às capacidades do "mortier" dando-me "alta" para eu próprio levantar um muro para a pintura a fresco.




"Ribeira Negra" (1984), uma das obras mais conhecidas de Júlio Resende, no Porto.