A abertura do conceito ART-MAP (Moving Curatorial Project) a propostas diversificadas
permite-nos um conjunto de incomensurável de relações. Das formas ou disciplinas
artísticas, ao tema e ao motivo, da técnica ao suporte, da experiência do autor
à proposta de curadoria e organização do espaço expositivo, da intenção da
organização ao carácter dos apoios, da escolha dos espaços aos visitantes
fruidores é possível agrupar experiências e fenómenos cuja significação orienta
para um “pensar/ser barroco”. Neste caso, a génese do projeto persegue um
carácter dinâmico, de movimento e fluidez, que vai ao encontro do tema
escolhido para a edição. A estratégia de abordagem aos diversos espaços confere
um carácter narrativo espacial propondo uma imersão e uma vivência que colapsa
diferentes dimensões temporais, novas e antigas formas.
Porém, deve entender-se àquilo que efetivamente anima a
experiência. Isto é, a possibilidade de uma forma barroca de pensamento e desse
movimento resultarem obras que o ilustram. Nesse campo, tal como a primeira
abordagem intuitiva, ilustrar refere-se à apropriação formalista de um conjunto
de signos generalizados pelo consumo das obras de arte e pela sua
popularização. Com efeito, este conceito de ilustração é a materialização de
conhecimentos e saberes. Se alguns exemplos podem facilmente ser notados entre
as obras presentes, outros lhe escapam por vontade do artista em ignorar este
sentido de resposta ou de procurar uma construção racional sobre o tema. Assim,
tanto é possível encontrar referências visuais explicitas – a volumetria do
entalhado, o padrão azulejar, a tensão de um rosto, uma perspetiva infinita –
como outras menos imediatas no domínio da expressão das emoções idiossincráticas,
da perturbação do espírito do artista.
Este evento ART-MAP atua (muito dentro do espírito) como uma
provocação, construindo uma manifestação coletiva que nos permite, a partir de
hoje e apesar da proximidade, uma análise mais objetiva do fenómeno. O seu largo
espetro temático, embora menos útil para um estudo mais definido, amplia a
multiplicidade dos pontos de vista de acordo com a interação narrativa que se
consiga estabelecer com as obras. Neste sentido, fugindo sempre ao imediato e
mais normativo, conformador, deve procurar-se todos os trabalhos que não
possuam uma referência explicita ao passado. Ou seja, todos aqueles que por
força de uma expressão contemporânea, no espírito do tempo, remetem de maneira análoga
a um tipo, comum, coerente, constante. Um análogo que é uma qualidade, não
necessariamente formal e concreta, expressa pela atitude. Um tipo que apesar de
intersubjetivo é claramente animado pelas experiências de cada individuo.
Este é um excerto do texto do catálogo da autoria de:
Miguel Duarte, Diretor do Museu Nogueira da Silva / UM