Nasceu no lugar de Portelas, Avintes, em 1920. Fez a
instrução primária na Escola de Cabanões, o ensino secundário na Escola Faria
de Guimarães (Soares dos Reis) e ingressou na Escola Superior de Belas-Artes do
Porto, Universidade do Porto, onde terminou o curso com brilhantismo, com a
classificação final de 18 valores. A Tese de final do curso foi sobre
"Nuno Alvares Pereira", um dos cavaleiros Portugueses mais
conhecidos. Durante o curso foi distinguido com os prémios "Teixeira Lopes"
e "Soares dos Reis". De seguida, rumou a Paris na companhia do seu
condescipulo, o famoso pintor Júlio Resende. Ali frequentou vários cursos de
escultura e aprendeu a técnica do “fresco”.
Participou em várias exposições colectivas, no Ateneu
Comercial do Porto, com os Independentes, três anos seguidos, nas Caladas da
Rainha, em Viana do Castelo, na S.N.B.A (Sociedade Nacional de Belas Artes) e
na exposição do Mundo Português em Moçambique.
Manuel Pereira da Silva iniciou a sua atividade de escultor
no atelier do escultor Henrique Moreira, enquanto estagiário recém-formado pela
Escola de Superior de Belas Artes do Porto. Henrique Moreira era nessa altura,
nos anos 40, 50, 60 e 70 o único artista, na cidade do Porto, que vivia
exclusivamente da sua atividade artística, todos os outros artistas eram na sua
maioria professores do ensino secundário, Manuel Pereira da Silva foi professor
do ensino secundário entre 1949 e 1991. Durante o período que trabalhou no
atelier de Henrique Moreira colaborou com ele na realização dos Baixos-relevos
do Teatro Rivoli e do Coliseu do Porto, e ainda no “Monumento aos Heróis das
Guerras Peninsulares” na Rotunda da Boavista, no Porto, onde trabalhou com
Sousa Caldas, Lagoa Henriques e Mário Truta.
Montou atelier na Rua Afonso de Albuquerque, em Gaia e, mais
tarde, transferiu-o para Avintes. Teve uma proximidade criativa com alguns
colegas e amigos artistas, como Aureliano Lima, Reis Teixeira, Fernando
Fernandes e Arlindo Rocha, com quem partilhou o seu atelier, relação essa
marcada pela paixão em relação à obra de arte, são aquilo que se poderia chamar
uns compagnons de route muito particulares. Refletia o gosto do trabalho em
conjunto, da partilha, da troca de ideias e do convívio fora do espaço do
atelier nos cafés da Baixa do Porto.
Manuel Pereira da Silva desenvolveu a sua arte num tempo de
grande renovação artística. Pontificava na pintura a estética do cubismo de
Pablo Picasso e a escultura era influenciada pelas obras de de Auguste Rodin e
Constantin Brancusi. Neste caldo fervilhante de inovação, Manuel Pereira da
Silva, como qualquer outro artista, ousou e sonhou criar um estilo original.
É autor, entre outras, das seguintes obras:
- Escultura do General Ulisses Grant, 18º Presidente dos
Estados Unidos da América entre 1868 e 1872, em Bolama, Guiné-Bissau
(encomendada pelo Governo Português).
- Baixo-relevo em Cerâmica Policromada em Luanda, Angola
(encomendado pelo Governo Português).
- Frescos evocativos da “Paixão de Cristo” na Capela-Mor da
Igreja de Santa Luzia de Viana do Castelo;
- Escultura da imagem da Nossa Senhora da Areosa, na Igreja
da Areosa, no Porto;
- Baixo-relevo em Pedra Ança de “D. Pedro Pitões exortando os
cruzados” no Palácio da Justiça, no Porto (encomendado pelo Governo Português);
- Escultura em bronze “A Maternidade” na Praça Marquês de
Pombal, no Porto.
- Mural a fresco da “Branca de Neve” na Rua Santa Catarina,
no Porto.
- Escultura para a Estação de Combustíveis (Shell, agora
Repsol) na A1, em Gaia,
- Monumento de Homenagem aos Industriais do Mobiliário, feita
pela Câmara Municipal de Paredes;
- Monumento a Fernando Couto em Sandim;
- Monumento ao Lavrador em Gulpilhares;
- Monumento ao Padre Araújo em Avintes;
- Monumento ao Atleta em Avintes;
- Monumento aos Bombeiros em Avintes, Gondomar e Freamunde;
- Busto de Homenagem ao Jornalista Fernando Pessa;
- Busto de Homenagem ao Prof. José Hermano Saraiva;
- Busto de Homenagem ao Major Valentim Loureiro, feita pela
Câmara Municipal de Gondomar;
- Busto de Homenagem a Joaquim José de Carvalho, Presidente
da Comissão Administrativa da Câmara Municipal de Palmela, em Palmela;
- Busto de Homenagem a Francisco Viana;
- Busto de Homenagem ao Escultor Henrique Moreira;
- Busto de Homenagem ao Dr. Adriano Sá Figueiredo;
- Busto de Homenagem ao pintor Luís Reis Teixeira;
- Busto de Homenagem ao Dr. Adelino Gomes, Clube Recreativo
Avintense;
- Busto de Homenagem ao Dr. Francisco Fernandes, Clube
Recreativo Avintense;
- Busto de Homenagem ao Escultor Alves de Sousa em frente à
Junta de Freguesia e à Igreja de Vilar de Andorinho;
- Busto de Homenagem ao Escritor Fernando Araújo Lima;
- Busto de Homenagem ao Escultor Fernando Fernandes;
- Busto de Homenagem ao Padre Luís Gonçalves de Pinho Rocha,
no Largo da Lavandeira, Oliveira do Douro;
- Medalha comemorativa da fundação da Vila de Avintes;
- Medalha comemorativa do centenário do Teatro Almeida e
Sousa, Avintes;
- Medalha comemorativa do 70º aniversário do Grupo Dramático
Musical Recreativo e Desportivo Restauradores Avintenses;
- Medalha comemorativa dos 100 anos da Associação de Socorros
Mútuos Restauradora Avintense;
- Medalha comemorativa 100º aniversário do Clube Recreativo
Avintense;
- Medalha comemorativa dos 75 anos do Grupo Mérito Dramático
Avintense;
- Medalha comemorativa das bodas de diamante do Futebol Clube
de Avintes;
- Medalha comemorativa do 60º Aniversário dos Bombeiros
Voluntários de Avintes;
- Medalha da Confraria da Broa de Avintes;
- Medalha da Escola Secundária António Sérgio;
- Medalha de homenagem
a Fernando da Conceição Couto;
- Medalha comemorativa do centenário do Jornalista Fernando
Pessa;
- Medalha comemorativa do centenário do Padre Artur Assunção
Saúde.
A obra Manuel Pereira da Silva tem tendências estéticas
abstratas, cujo principal tema é a figura humana e como subtemas: o homem, a
mulher, o casal, a família, a maternidade. De um modo geral o processo criativo
começa por um ou vários desenhos no papel, folha A4 que depois pode passar para
um formato maior de cartolina, em seguida pode passar para a tela, primeiro
desenhando a lápis na tela e só depois pintando, recorrendo a vários materiais:
guache, aguarela, tinta-da-china, ou a óleo. Por último pode passar a
escultura, primeiro feita no barro e depois em gesso em estrutura de alumínio,
só passando a bronze se forem encomendas. A finalidade de todos esses estudos
elaborados em desenhos, na sua maioria a esferográfica (Bic), podendo ser a
lápis ou crayon, é transformá-los em esculturas.
As primeiras esculturas modernistas de Manuel Pereira da
Silva surgiram nos anos pioneiros do abstracionismo escultórico em Portugal. A
arte abstrata portuguesa está historicamente ligada às exposições
“independentes”, cujo principal organizador e animador, Fernando Lanhas, é
coincidentemente a figura central desse abstracionismo. Após uma I Exposição,
em abril de 1943, nas instalações da Escola de Belas Artes do Porto, onde já se
poderá verificar a presença do futuro “núcleo duro” dos “independentes”, como
sejam Júlio Resende, Fernando Fernandes, Nadir Afonso, Arlindo Rocha, Altino
Maia, Mário Truta, Serafim Teixeira, Augusto Tavares e Manuel Pereira da Silva.
As exposições “independentes” passam a ter lugar fora da Escola e, várias
vezes, fora do Porto. Este movimento só faria sentido pela conjuntura formada
pelos Diretores da Escola Superior de Belas Artes do Porto nos anos 40, onde
Dordio Gomes, na Pintura, Barata Feyo, na Escultura, e Carlos Ramos, na
Arquitetura, permitiram um novo fôlego, respirando as vanguardas artísticas que
se continuavam a afirmar na Europa.
No Porto, os estudantes de todos os cursos, Arquitetura,
Pintura e Escultura, conviviam intimamente, não só por terem estudos
preparatórios comuns, como pelo facto das três Artes serem consideradas
inseparáveis. Havia discussões sobre o Modernismo na Arte, e um latente
inconformismo em relação ao ensino clássico. São inúmeros os exemplos de
estreita colaboração de Artistas Plásticos em obras de Arquitetura. Da
colaboração com o Arquiteto Carlos Neves, Manuel Pereira da Silva realiza uma
decoração mural a fresco da sapataria “Branca de Neve” na Rua Santa Catarina,
no Porto e duas figuras decorativas em edifícios no Jardim do Marquês de
Pombal, no Porto.
No território africano sob domínio colonial português, menos
sujeito à pressão dos cânones culturais do Estado Novo e ao mesmo tempo com
mais necessidades de construção urbana, houve espaço para que os artistas
portugueses pudessem explorar livremente o Movimento Moderno. Vários arquitetos
portugueses, sobretudo os da Escola do Porto, tentaram que os edifícios fossem
obras completas, integrando a arquitetura e a arte – painéis de azulejos,
murais em pastilha vidrada, painéis cerâmicos, murais em mármore gravado,
murais de seixos embutidos, desenhos figurativos e abstratos, formas
geométricas, cores. Manuel Pereira da Silva também fez parte deste movimento
moderno, na escultura, com trabalhos realizados em Moçambique, Guiné-Bissau e
Angola. Participa na Exposição da Vida e da Arte Portuguesas em Lourenço
Marques, Moçambique (1946). Em 1955, Manuel Pereira da Silva concebeu a estátua
a Ulysses Grant, 18º Presidente dos E.U.A., vencedora do concurso público
lançado para o efeito, pelo Ministério do Ultramar, erigida frente ao edifício
dos Paços do Concelho de Bolama, na Guiné-Bissau. Em 1960, Manuel Pereira da
Silva realizou, "África", este baixo-relevo, em faiança policromada, destinado
à decoração da fachada de um edifício situado na marginal da Baía de Luanda,
Angola.
Escultor com elevada sensibilidade para as temáticas sociais,
Manuel Pereira da Silva pôs o seu talento ao serviço de várias associações ou
movimentos cívicos avintenses e foi um exemplo de generosidade, de descrição
nos gestos e de empenhamento na construção da cidadania e da democracia.
Em 13 de Abril de 1987, foi-lhe atribuída, pela Assembleia de
Freguesia de Avintes, a Medalha de Honra e em 2000 a Medalha de Ouro de Mérito
Cultural pela Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia.