segunda-feira, setembro 30, 2019

Artbid - Leilão 1355 / Lote 26

Artbid - Leilão 1355 / Lote 26
MANUEL PEREIRA DA SILVA (1920-2003)
Sem título
Técnica mista sobre papel, colado sobre cartolina
Assinada
19,5 x 50 cm. (total)

sexta-feira, setembro 27, 2019

Artbid - Leilão 1354 / Lote 34


Artbid - Leilão 1354 / Lote 34
MANUEL PEREIRA DA SILVA (1920-2003)
Bombeiro
Escultura em bronze patinado, assente em base de mármore
Com placa 'Esc. Manuel Pereira da Silva 1994'
46 cm. (alt. total)


quinta-feira, setembro 19, 2019

Artbid - Leilão 1347 / 12


Artbid - Leilão 1347 / 12
MANUEL PEREIRA DA SILVA (1920-2003) (2)
Cavaleiro
Escultura em gesso, junto com estudo a carvão sobre papel
Escultura assinada e datada de 1969
30 x 24 x 9 cm. (escultura)


segunda-feira, setembro 16, 2019

Artbid - Leilão 1337 / Lote 25


Artbid - Leilão 1337 / Lote 25
MANUEL PEREIRA DA SILVA (1920-2003) (2)
Sem título
2 Litografias sobre papel
Uma com assinatura e data 1967 impressas
21,5 x 16 cm. (maior)


sexta-feira, setembro 13, 2019

Artbid - Leilão 1340 / Lote 13


Artbid - Leilão 1340 / Lote 13
MANUEL PEREIRA DA SILVA (1920-2003)
Figura masculina
Escultura em bronze patinado
Sem assinatura
30 cm. (alt.)


sexta-feira, setembro 06, 2019

Artbid - Leilão 1332 / Lote 17



Artbid - Leilão 1332 / Lote 17
MANUEL PEREIRA DA SILVA (1920-2003)
Sem título
Esferográfica sobre cartolina
Assinado e datado de 1978
59 x 42 cm.

sexta-feira, agosto 09, 2019

II Exposição de Arte Moderna de Viana do Castelo



II Exposição de Arte Moderna de Viana do Castelo realizada pelo Museu Regional de Viana do Castelo, em Setembro de 1959, esta exposição esteve patente ao público nas seguintes cidades, em Coimbra, organizada pelo Círculo de Artes Plásticas da Associação Académica, em Dezembro de 1959 e nas Caldas da Rainha, organizada pelo Conjunto Cénico Caldense, em Janeiro de 1960, com o patrocínio da Fundação Calouste Gulbenkian, planificada e organizada pelo Dr. Manuel de Sousa Oliveira.


A arte mesmo quando pareça muito afastada da vida é sempre um seu reflexo, não no sentido de imitação, como erradamente se tem interpretado a definição aristotélica, mas no de fonte da criação expressiva.


Esta exposição de artistas modernos portugueses a despeito do energético cuidado da sua organização, não pode, bem entendido, dar o panorama completo da nossa arte. No entanto, ilustra dignamente a transformação processada, em especial neste último decénio, no acerto europeu do nosso passo. E certamente terá proporcionado aos visitantes interessados o familiarizarem-se não só com aspetos característicos da arte de hoje como alguns dos nomes mais representativos das novas fileiras de Lisboa e Porto. Manuel Pereira da Silva é um dos 37 artistas presentes, com duas esculturas e duas pinturas.


Escola De Artes Decorativas Soares dos Reis



Escola De Artes Decorativas Soares dos Reis
O Ensino Técnico Artístico no Porto
Durante o Estado Novo (1948-1973)
Francisco Perfeito Caetano
Ed. Universidade do Porto
(2012)
ISBN 978-989-8265-87-6

A atual Escola Artística de Soares dos Reis foi criada oficialmente em Janeiro de 1884, sendo designada nessa altura como Escola de Desenho Industrial de Faria de Guimarães do Bonfim. A sua atividade iniciou-se um ano mais tarde em instalações precárias de um prédio de habitação no Campo 24 de Agosto.

Em 1917, a escola recebe ordem de despejo e passa a ocupar as antigas instalações do Liceu Alexandre Herculano, na Rua de Santo Ildefonso.

Em 1927 é autorizada a compra de uma velha fábrica de chapéus, na Rua Firmeza, 49. Em 1931 é criado o curso de habilitação à Escola de Belas Artes. A Escola dá cursos de cinzelador, gravador de aço, marceneiro, ourives, modista, tecelão debuxador, entalhador entre outros.

A partir de 1948, a Escola, agora denominada Escola de Artes Decorativas de Soares dos Reis, passa a ministrar cursos especializados de índole artística - Pintura Decorativa, Escultura Decorativa, Cerâmica Decorativa, Mobiliário Artístico, Cinzelador e, entre outros, as Artes Gráficas. Com a reforma do ensino secundário em 1972/73, introduzem-se os Cursos Gerais e Complementares de Artes Visuais, incluindo Artes dos Tecidos, Equipamento e Decoração, Artes do Fogo, Artes Gráficas e Imagem.

Em 2008, 124 anos após a sua fundação, a agora denominada Escola Artística de Soares dos Reis muda-se finalmente para um novo edifício na rua Major David Magno, onde antes se encontrava a Escola Secundária de Oliveira Martins. Obra da empresa pública Parque Escolar, o edifício é desenhado pelo arquiteto Carlos Prata e faz parte da fase piloto do projeto de requalificação do parque escolar do ensino secundário público nacional. Mantendo a fachada da antiga escola, todo o interior é renovado ou construído de novo de modo a receber os Cursos Artísticos Especializados criados em 2004.

Mantendo o seu projeto educativo que consiste num ensino artístico de excelência que alia a exigência na formação geral ao profissionalismo e paixão colocados na formação técnica e artística, a Soares dos Reis é hoje uma instituição de ensino de referência na cidade do Porto e no País. A equipa de professores com formação especializada conjuga juventude e experiência numa rara mistura que é receita de sucesso, hoje complementada por instalações que são das melhores do país para o ensino das artes.

Tendo em atenção a importância de ser sede de estagiários (centro de estágio) para uma instituição como a Escola Soares dos Reis, e ter no seu seio professores estagiários, consideramos relevante referir aqui os nomes e classificações dos estagiários do 5ºgrupo, constantes no livro de atas “para classificação dos professores estagiários” correspondentes aos 1º e 2º ano de estágio. São eles Mário Truta, 14 e 15 valores (1952-1953); Manuel Pereira da Silva, 15 e 17 valores (1966-1967); entre muitos outros professores estagiários.


Alguns dos professores da Escola Soares dos Reis tiveram um impacto profundo no panorama artístico nacional entre eles destacam-se Sousa Caldas, Mário Truta e Manuel Pereira da Silva.

Após uma I Exposição, nas instalações da Escola Superior de Belas Artes do Porto, com esculturas (referem-se por nossa opção, apenas os escultores) de Altino Maia, Mário Truta, Arlindo Rocha, Serafim Teixeira, Augusto Tavares e Manuel Pereira da Silva, as exposições independentes passam a ter lugar fora da escola e várias vezes fora do Porto. É um primeiro exemplo de descentralização e vontade de difusão que, apesar de tudo, não evitará uma certa marginalização dos artistas do Porto em relação aos acontecimentos e iniciativas de maior visibilidade e impacto na capital.

Importância bem maior teve a I Exposição dos Independentes em Abril de 1943. A arte abstrata portuguesa está historicamente ligada às exposições independentes cujo principal organizador e animador, Fernando Lanhas, é coincidentemente a figura central desse abstracionismo.

A II Exposição Independente apresenta-se, em Fevereiro de 1944, no Ateneu Comercial do Porto, com esculturas de Altino Maia, Arlindo Rocha, Eduardo Tavares, Joaquim Meireles Manuel da Cunha Monteiro, Maria Graciosa de Carvalho, Mário Truta, M. Félix de Brito, Manuel Pereira da Silva e Serafim Teixeira. Será a partir daí que a ação de Fernando Lanhas se fará sentir, na consistente qualidade dos catálogos e das exposições, bem como na persistência em manter vivas as iniciativas.

A III Exposição Independente tem lugar, no mesmo ano, no salão do Coliseu do Porto, com esculturas de Abel Salazar, Altino Maia, António Azevedo, Arlindo Rocha, Eduardo Tavares, Henrique Moreira, Manuel Pereira da Silva, Mário Truta e Sousa Caldas.

No catálogo da exposição, em itinerância por Coimbra, Leiria e Lisboa, em 1945, esclarece-se que o nome de “independente” não é um nome ao acaso, mas implica a consciência de que a arte é um património da humanidade e daí “a nossa variadíssima presença”, atendendo-se que o presente deve ativar-se para alcançar o futuro, não se podendo negar ao passado o direito de recordar-se.

Para Fernando Lanhas as “Exposições Independentes” do Porto marcam um momento histórico significativo na nossa pintura e escultura. Primeiro porque reúnem pintores e escultores de formação diferente (a razão de ser da palavra independente vem da não filiação num “ismo” particular), empenhados numa igual ação coletiva e mergulhados no mesmo entusiasmo. Segundo porque nelas aparece, sem preconceitos nem complexos, essa abstração original e fecunda. E em terceiro lugar porque escapam à voracidade centralizadora da capital.

Grant’s Last Battle



Grant’s Last Battle
The Story Behind the Personal Memoirs of Ulysses S. Grant
Emerging Civil War Series
By Chris Mackowski and Kristopher D. White
SB – Savas Beatie
California
(2015)
ISBN-13: 978-1-61121-160-3
Library of Congress Control Number: 2015943486




Guinea-Bissau, Africa (circa 1955)


Essa escultura em pé de Grant como presidente foi encomendada em reconhecimento à arbitragem de 1870 de Grant sobre uma disputa entre Portugal e a Grã-Bretanha sobre a antiga colônia. O governo português encomendou ao escultor Manuel Pereira da Silva para criar o monumento, que foi erguido na praça principal da cidade capital da Guiné-Bissau, Bissau. Mais tarde, sobreviveu à onda de destruição que destruiu muitos dos outros monumentos que representam o passado colonial da nação. Em agosto de 2007, no entanto, a escultura Grant desapareceu e foi descoberta em pedaços, provavelmente para uso como sucata. A polícia conseguiu recuperar todas as peças, exceto a cabeça de Grant, mas eles ainda esperam recuperar a peça e remontar a estátua.





quarta-feira, agosto 07, 2019

A Escola de Gaia


Laura Castro
A Escola de Gaia

Ao falar de artistas de Gaia num período compreendido entre os anos 60 do século XIX e os anos 20 do século XX, o panorama reduz-se quase obrigatoriamente à escultura.

De Escola de Escultores de Gaia se começou a falar insistentemente desde que António Arroio, em 1909, utilizou a expressão para caracterizar o núcleo de escultores que nasceram ou trabalharam em Gaia, sobretudo a partir da figura de Soares dos Reis. É com José Joaquim Teixeira Lopes (1837-1918), e à laia de preâmbulo, que começa a história dos escultores de Gaia. Só depois do introito que representou a sua atuação, se pode definir uma primeira geração com o nome de Soares dos Reis (1847-1889), ao qual se segue um grupo de escultores nascidos na década de 60: Joaquim Gonçalves da Silva (1865-1912), José Fernandes Caldas (1866-1923), António Teixeira Lopes (1866-1942), Augusto Santo (1869-1907), estes dois últimos discípulos de Soares dos Reis, a que pode reunir-se António Fernandes de Sá, da década seguinte (1875-1959). Contemporâneo deste núcleo é o pintor Manuel Maria Lúcio (1865-1943). Por último um conjunto de escultores nascidos nas décadas de 80 e 90, com numerosa presença de discípulos de Teixeira Lopes: José de Oliveira Ferreira (1883-1942), António Alves de Sousa (1884-1922), Diogo de Macedo (1889-1959), António Azevedo (1889-1968), Zeferino Couto (1890-), Henrique Moreira (1890-1979), José Fernandes Sousa Caldas (1894-1965), Adolfo Marques (1894-1960). Contemporâneos deste núcleo, sublinhem-se o pintor Joaquim Lopes (1886-1956) e o arquiteto Francisco Oliveira Ferreira (1884-1957).

Soares dos Reis regressa de Paris e Roma em 1872. Será preciso esperar treze anos para ver partir Teixeira Lopes para a capital francesa. E quando Teixeira Lopes se prepara para entrar na Academia (1901) e Fernandes de Sá, mesmo na viragem do século, obtém êxito em Paris (1896-1901), Oliveira Ferreira e Alves de Sousa estuda ainda nas Belas Artes do Porto, terminando o curso em 1905. Finalmente, quando Alves de Sousa está como pensionista em Paris e Oliveira Ferreira chega ao fim do seu período de bolseiro, terminam o curso António de Azevedo, Sousa Caldas, Henrique Moreira, Diogo de Macedo e Zeferino Couto (1911). Poucos anos separam a formação destes escultores, cuja atividade haveria de cruzar-se em diversas ocasiões.  Necessário se torna esclarecer a este respeito de “artistas de Gaia” que a questão da naturalidade não me parece decisiva na definição de vocações e de formações, sendo mesmo um critério pouco legítimo para apurar gerações de artistas e suas tendências dominantes ou mesmo para organizar, unicamente em função dele, uma exposição ou um estudo. O século XX veio diluir, de forma acentuada, a questão da geografia artística que impunha escolas por países ou regiões. Na contemporaneidade, e salvo algumas exceções, o termo “terra natal” não tem grande sentido quando falamos de artes plásticas. Portanto, esta fronteira gaiense é um pretexto para encarar um conjunto de artistas que viveram e desenvolveram a sua atividade a partir de Vila Nova de Gaia. Verifica-se até que alguns dos representantes dessa “Escola de Gaia” são oriundos de outros pontos do país: José Joaquim Teixeira Lopes é natural de S. Mamede de Riba Tua.

Para enfatizar esta ideia deve referir-se que, se a maioria é natural de Gaia, quase todos trabalharam no Porto e para o Porto. Ou seja, em Gaia medita-se, concebe-se, produz-se; no Porto, concretiza-se a obra, implanta-se em local público, perpetua-se a peça e o seu autor. Porto e Gaia mantiveram desde sempre estas relações estreitas, porque se as oficinas e os ateliers existiam em Gaia, era no Porto que se cumpria a formação. Afinal, este grupo de artistas apenas tirava partido das condições de mercado que lhe oferecia a cidade vizinha. E era também aí que se encontravam os locais de exposição: Ateneu, Misericórdia, Palácio de Cristal, Pátio da Associação Comercial (o local preferido por Teixeira Lopes, segundo relata nas suas Memórias) Salão Silva Porto.

Mesmo em relação aos ateliers que os escultores mantinham, alguns situavam-se no Porto: Fernandes de Sá trabalhava na R. Álvares Cabral (Bertino Daciano, 1949), Joaquim Gonçalves trabalhou numa oficina de escultura religiosa na R. da Fábrica (Romero Vila, 1964) e Henrique Moreira no Largo Actor Dias. O caso mais paradigmático desta situação é o de Henrique Moreira, natural de Gaia e que marcou decisivamente a imagem da cidade do Porto, em termos de estatuária pública.

Na mesma ordem de ideias, mas de razão inversa, refiram-se os irmãos Oliveira Ferreira – arquiteto e escultor – naturais do Porto, mas com oficina em Gaia, e com parte fundamental da sua obra aqui desenvolvida.

Forçando o esquema a adaptar-se aos exemplos disponíveis, outros poderiam ser acrescentados, como Eduardo Tavares, natural de S. João da Pesqueira, professor da Escola de Belas Artes do Porto e que manteve atelier na oficina de Soares dos Reis, já numa fase mais avançada do nosso século.

Prova bastante da apetência por esta terra e pelas suas figuras emblemáticas, e da capacidade de proporcionar alguma continuidade ao movimento nascido no século XIX. Apesar de toda a contenção de critérios anunciada, convém reconhecer a existência, em Gaia, de uma comunidade de escultores, em número muito razoável, que dominou parte da atividade artística, das encomendas e das exposições na passagem do século. As causas, se não cabem desenvolvidamente nesta abordagem, também não se poderão alhear dela. Têm sido frequentemente aduzidas razões como a proliferação de oficinas de barristas, de canteiros, de fundidores; a tradição da imaginária em madeira; a existência de fábricas de cerâmica; a realização de figuras de proa para os barcos, nos estaleiros de Gaia.

Mas o movimento inverso também será verdadeiro, a julgar pelas palavras de outro autor que considera terem as imagens religiosas de Teixeira Lopes – como a de Santa Isabel – exercido influência na arte dos santeiros populares (António Arroio, 1909). Todos estes fatores, ainda que indiretamente, contribuíram para um ambiente propício à criação artística e à decoração; montaram uma atmosfera habituada a conviver com estas áreas como atividades produtivas, conferindo-lhe um sentido utilitário e interveniente; geraram a habituação à tridimensionalidade, à modelação, em formas acabadas e prontas a colocar no remate de uma fachada, na decoração de uma frontaria, no conjunto ornamental de uma fonte, num jardim. É neste sentido que Ramalho Ortigão discorre sobre a superioridade da escultura, baseando-se no facto de os “escultores terem de ser submissamente, obrigatoriamente, operários (…) indispensavelmente (…) canteiros, fundidores, cinzeladores, barristas ou entalhadores” (Ramalho Ortigão, 1905). 

Nesta linha, leiam-se atentamente as considerações de outro crítico que estranha a falta de interesse pela escultura porque, reconhecendo que é mais difícil do que a pintura, é também “menos abstrata. Ocupa-se da forma em toda a sua verdade (…). Nenhuma convenção tem o escultor, apresenta a forma real que a sua conceção criou. (…) Passam as multidões quase sempre impassíveis diante das realidades do mármore ou do bronze para correrem entusiasmadas às seduções convencionais das imagens coloridas”. E noutro passo: “É pena por ser ela a arte que melhor faz a educação artística de um povo, pois em lugar de esconder-se sempre no recinto fechado dos edifícios, é à luz plena e livre das praças e dos jardins que ostenta o melhor das suas maravilhas.” (Ribeiro Artur, 1896).

A consciência crítica da época em relação à escultura revela ainda: “é a expressão de arte que em Portugal descreve a mais completa linha de evolução ininterrupta, desde os primeiros monumentos arquitetónicos coevos da fundação da nacionalidade até aos nossos dias”. E continua: “Não podemos, portanto, dizer, ao deparar-se-nos no século XIX tão admiráveis escultores como foi Soares dos Reis, como é Teixeira Lopes, que na sua raça não existisse a poderosa seiva artística de que eles desabrocharam”. (Ramalho Ortigão, 1905).

Qualquer dos dois autores citados trabalhou e exerceu atividade crítica face ao movimento de escultores que em Gaia se gerava e o facto de realçarem desta arte o seu lado mais oficinal e a sua faceta mais concreta, parece-me conferir-lhes um entendimento muito correto quanto ao interesse dedicado à escultura naquela vila. Toda esta argumentação encontra correspondência na conceção segundo a qual “a escultura se ocupa do corpo e a pintura da alma” (António Arroio, 1899).

Um caso muito particular da relação entre o tipo de oficinas referido e a escultura, é o de Adolfo Marques. Filho de um entalhador com o mesmo nome, desenvolveu, a partir da tradição familiar dos trabalhos em madeira, um conjunto de pequenas imagens celebrizadas como “bonecos de pau”. As peças realizadas, que recorrem à nogueira como material predominante, são de pequenas dimensões e apresentam uma fatura que cruza uma visão representativa com traços construtivos, tornando-as duras e facetadas. Traem a aprendizagem familiar inicial, mas também uma vontade de enveredar por novos caminhos que teriam sido aprofundados, não fora a desistência da Escola de Belas Artes frequentada até ao quarto ano. E é impossível não ver nestes “bonecos”, de ferreiros, de varredores, de figuras de procissão, de outras lendo a sina, de velhos sentados, de músicos populares, de D. Quixote e outros tantos de recorte literário, um aceno das figuras de cerâmica de Teixeira Lopes (Pai), no inventário de profissões e atividades populares. Muito mal conhecidas estas esculturas de Adolfo Marques provam a influência e a continuidade, atrás referida, da produção de barros, cerâmicas e trabalhos em madeira.

Um outro caso é o de Sousa Caldas que começou a conviver com a estatuária realizada  pelo pai – José Fernandes Caldas – autor de numerosas imagens religiosas, das quais as mais célebres se destinaram à Capela dos Bragas, no Porto, encontrando-se outras no Brasil, onde se radicou após a implantação da República, aí vindo a falecer. Sem que se possa estabelecer uma ligação direta entre as obras de Fernandes Caldas e as do filho, em termos de resultados plásticos, é inevitável admitir um traço de união entre as atividades que ambos escolheram.

Uma terceira figura é a de Fernandes de Sá, cujo pai tinha uma oficina de marmorista, o que permitiu transmitir àquele escultor o gosto pelos materiais que mais tarde viria a utilizar.

Diogo de Macedo iniciou-se na escultura a partir do contacto com a oficina de Fernandes Caldas, onde aprendeu a desenhar, a modelar e a esculpir a madeira.

Finalmente, nas suas memórias, Teixeira Lopes conta como começou por realizar os olhos de vidro com que abastecia os santeiros e figuras em barro, fornecendo feiras e romarias.

Da atividade destas gerações, Gaia conserva três edifícios simbólicos: o atelier de Soares dos Reis; a Casa Museu Teixeira Lopes, atelier do escultor a que se associaram, mais tarde, as Galerias Diogo de Macedo; o atelier de Oliveira Ferreira em Miramar. Edifícios que, na existência atribulada que conheceram, relatam também histórias dos artistas a eles associados.

O atelier de Soares dos Reis foi sempre um objetivo dos defensores do escultor que propunham a sua aquisição pela Câmara de Gaia, em movimentos mais ou menos organizados a partir dos anos 10 (Joaquim Antunes, 1990). Foi adquirido pelo industrial Manuel Pinto de Azevedo em 1938 e legado, por este, à Escola de Belas Artes do Porto, em 1947. Neste processo foi de grande importância a pressão exercida, nomeadamente por Joaquim Lopes, à imagem do que fazia em prol de uma casa oficina António Carneiro.

A Casa Museu Teixeira Lopes resulta do atelier fundado em 1895 pelo escultor e concebido pelo seu irmão arquiteto, José Teixeira Lopes. Em 1932 é doada com todo o seu recheio à Câmara Municipal de Gaia ficando o escultor como seu conservador e recebendo uma pensão mensal vitalícia. A este espaço ficou associado o nome de Diogo de Macedo ao qual foi igualmente dedicado um espaço de exposição das suas obras e da sua coleção, de que a Câmara tomou posse em 1971, tendo-se repetido a fórmula de uma pensão a receber, neste caso, pela viúva do artista.

O atelier de Oliveira Ferreira, onde trabalharam os dois irmãos, o escultor e o arquiteto, foi concebido por este último, autor muito desigual na sua produção que espelha ainda característica do ecletismo da passagem do século, que desenhou, entre outros, o edifício dos Paços do Concelho de Gaia (1925), rompe radicalmente com traços historicistas na Clínica Heliântia (1916). A oficina de Oliveira Ferreira foi doada à Associação Cultural Amigos de Gaia (Boletim dos Amigos de Gaia, 12, Maio 1982).

Com a preservação destes três edifícios, com o monumento a Soares dos Reis, com o busto de Henrique Moreira (de Manuel Pereira da Silva) e o de Teixeira Lopes (de Gustavo Bastos) Gaia vai homenageando a sua escola de escultores. Ultrapassando o âmbito cronológico, haveria ainda um conjunto de artistas a tratar: José Pereira dos Santos (1902-), Manuel Teixeira Lopes (1907-) Guilherme Camarinha (1912-1994), António Sampaio (1916-1994), António Coelho de Figueiredo (1916-1991), Manuel Pereira da Silva (1920-2003), Isolino Vaz (1922-1992), Paulino Gonçalves.