Templo situado em zona privilegiada, quer pela vista que se
vislumbra da zona envolvente, quer pelo caráter sagrado do local, ocupado desde
a Pré-história, por uma civilização castreja e onde se manteve, desde a Idade
Média, uma capela com culto.
O Templo-Monumento glorifica o nome de Santa Luzia, advogada
da vista a quem o Capitão de Cavalaria Luís de Andrade e Sousa recorre, na
extinta capela de Santa Luzia, acometido de uma grave oftalmia. Já
convalescido, institui a Confraria de Santa Luzia, como forma de gratificar a
graça recebida.
Contudo, é o Sagrado Coração de Jesus o padroeiro do
monumento, cuja devoção dos vianenses já vinha desde 1743. Mas foi durante a
pandemia da Pneumónica, corria o ano de 1918, que a cidade, chorosa pelos seus
entes queridos que haviam perecido, e aterrorizada com a violência de tal
flagelo, se consagrou ao Sagrado Coração de Jesus, prometendo subir anualmente
em peregrinação ao Monte de Santa Luzia se a pneumónica não ceifasse mais nenhuma
vida. Cessada a mortandade, os vianenses fizeram jus ao prometido e rumaram
monte acima onde, desde 1904, se construía o templo. Tal promessa ainda hoje se
cumpre, no domingo mais próximo da festa litúrgica do Sagrado Coração de Jesus.
Imbuídas neste espírito, já se realizavam peregrinações,
embora sem calendário, desde o século anterior. Foi precisamente durante uma
dessas piedosas romagens, por ocasião das Festas d’Agonia de 1894, que o Padre
Dias Silvares lançou a ideia de erigir no alto do monte uma estátua ao Sagrado
Coração de Jesus, que abençoasse a cidade de Viana do Castelo, o Minho e toda a
Nação. Tal proposta foi logo entusiasticamente acolhida, e na mesma altura
indicado e admitido o nome do escultor minhoto Aleixo Queiroz Ribeiro para
executar a dita obra.
Daí ao Templo-Monumento foi só um passo. Depois de executada
a monumental e artística coluna que haveria de servir de suporte à estátua,
verificou-se que a mesma não conseguiria suportar a sua posição fortemente
inclinada para frente. Então, a estátua foi colocada num pedestal em frente à
dita capelinha de Santa Luzia, que só seria demolida em 1926. Aproveitando a
majestosa coluna, Miguel Ventura Terra, um dos maiores arquitetos do seu tempo,
idealizou uma coluna igual para as implantar diante do templo a construir e
servir de suporte a dois anjos. Entre essas duas colunas, Ventura Terra riscou
o projeto de um magnífico templo, cuja beleza e magnificência é apenas
igualável pela paisagem onde este se insere.
As obras de construção iniciaram-se em 1904, tendo-se
desenvolvido animadamente até à proclamação da República, data a partir da qual
esmoreceram como consequência do conturbado contexto político e social, e ainda
mais abrandaram durante a I Guerra Mundial. Entretanto, o arquiteto Miguel Nogueira,
que tinha sido aprendiz de Ventura Terra, assume a direção das obras no ano de
1925, ficando encarregue de concluir o projeto do seu Mestre, devido ao
falecimento deste. No ano seguinte deu-se por concluída a capela-mor do templo,
tendo sido aberta ao culto pelo Arcebispo e Senhor de Braga e Primaz das
Espanhas. As obras do exterior do templo concluíram-se no final do ano de 1943,
e as do interior em 1959. O resultado é uma imponente mole granítica cinzelada
e executada pelos mestres canteiros da região dirigidos por Emídio Pereira
Lima.
Arquitetonicamente, apresenta semelhanças com o Santuário de
Sacré Cœur, de Paris. O edifício apresenta uma planta centrada em cruz grega, de
raiz bizantina. À mesma matriz vai buscar a enorme cúpula que coroa o edifício,
bem como as pequenas cúpulas que encabeçam as quatro torres, estas já
inspiradas no estilo românico, assim como a decoração que serpenteia pela
fachada do edifício. De gosto gótico são as enormes rosáceas, as maiores da
Península Ibérica, emoldurando os belos vitrais que inundam com luz e cor o interior
da igreja. Aqui dentro, dois anjos, da autoria de Leopoldo de Almeida, oferecem
os escudos de Portugal e de Viana do Castelo ao Sagrado Coração de Jesus, uma
réplica da estátua bronze da entrada, esculpida em mármore de Vila Viçosa por
Martinho de Brito. A atenção popular e a devoção dos vianenses é dirigida à
imagem do Sagrado Coração de Jesus que veio do convento dos Crúzios, e para
imagem de Santa Luzia que, juntamente com a da Senhora da Abadia, vieram da
capela que antecedeu o templo. E, já que falamos de imagens, a de Nossa Senhora
de Fátima merece atenções especiais por parte do povo crente, tanto lusitano
como galego.
O altar-mor em granito e mármore, e os altares laterais,
dedicados a Santa Luzia e à Senhora da Abadia, foram esculpidos pela mão de
Emídio Lima, assim como os púlpitos de linhas ondulantes, cujo desenho é de
Miguel Nogueira. As três rosáceas foram executadas pela oficina lisboeta
Ricardo Leone.
Os frescos que rodeiam a abside da capela-mor com uma banda
de pinturas murais modernistas, divididos por estreito friso, representam
respetivamente, parte das estações da Via-Sacra: "Prisão de Cristo",
"Julgamento de Cristo", "Cristo encontra as mulheres de
Jerusalém", "Cristo encontra Maria", "Cristo ajudado por
Cireneu", "Crucificação", "Morte de Cristo", "Descida
da cruz", "Soldados jogam as vestes de Cristo"; e emoldurados,
inferior e superiormente, por faixa branca, onde corre inscrição latina. A
cobertura, em semicúpula, ao centro, apresenta-se pintada em tons de azul,
criando o firmamento, representa a Ascensão de Jesus. rodeado por feixes de luz
e corte de anjos músicos, fazendo reviver as bandas dos mosaicos paleocristãos,
são da autoria de Manuel Pereira da Silva.
Finalmente, o sacrário de prata foi cinzelado pelo mestre
ourives portuense Filinto Elísio de Almeida.
Ficha Técnica:
ARQUITETOS: João Guilherme Faria da Costa (1948); Júlio de
Brito (1962); Miguel Nogueira (1926-1954), Moreira da Silva (1959); Ventura
Terra (1896). CANTEIRO: Emídio Pereira Lima (1928-1956). DESENHADOR: José da
Silva Dias (1886-1887). EMPREITEIRO: Francisco Gonçalves Carvalhido
(1889-1890). ESCULTOR: Albino Rodrigues Lima (1955); Aleixo Queirós Ribeiro
(1895-1896); Gustavo Rocha (1962); Leopoldo de Almeida (1955); Manuel Couto
Viana (1934), Martinho de Brito (1959). FUNDIDOR: Fundição de Sinos (1946);
Manuel Francisco Cousinha (1952, 1971). OURIVES: Filinto de Almeida (1959).
PEDREIROS: José Franco da Cunha (1904); José da Meira (1936); José Rodrigues de
Oliveira Lima (1904). PINTOR: Manuel Pereira da Silva (1959). PINTOR de VITRAL:
Ricardo Leone (1945-1947). RELOJOEIRO: Serafim da Silva Jerónimo & Filhos
(1986).